17 outubro 2008

Magnetismo




para Sam Sheppard


Saiu para a noite, em meio a sibilos ondulantes e enigmáticos do vento fresco vindo das montanhas, e que lhe dava o respiro necessário para decidir-se. Dirigiu-se ao carro, largou a mochila no banco de trás e antes de dar a partida, olhou-se ainda uma vez pelo espelho retrovisor. Sem dúvida algo se rompia com suas reflexões intempestivas, talvez a motivação interior necessária para lançar-se ao objetivo que se delineava, sem se deixar tolher pelas incertezas que o prendiam a um leito tíbio.

O carro em movimento trouxe-lhe uma corrente de ar que se metia pelos vidros escancarados, a estrada cada vez mais deserta e convidativa, enquanto seus pensamentos avançavam e recuavam, do presente ao futuro, das mãos sutis ao sorriso e às palavras que o perscrutavam e o atraíam em seus passos decididos. Escolheu uma das mesas do Happy Chef e sentou-se, deixando-se embalar pelas ternas expectativas. Àquela hora havia pouca gente, dois sujeitos no balcão, um casal conversando em uma mesa afastada e a iluminação intensa convidava os viajantes a experimentar as refeições rápidas do Charlie. 

Mesmo sem comer desde a noite anterior não sentia fome. Passou a mão no rosto, como se lhe agradasse apalpar a pele lisa. Voltou-se para a janela, observando o silêncio e sentindo o vazio da ausência. Charlie já estava ao seu lado para anotar o pedido, porém o que lhe ocorreu foi a imagem feminina, uma vez mais o sorriso expresso por lábios persuasivos, o contorno da boca sonolenta com seus belos dentes, a língua soprando-lhe palavras de ternura e os olhos, de um brilho arrebatador.




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