17 outubro 2015

A Cerimônia do Adeus




Poderia começar dizendo que este livro foi a porta de entrada para o existencialismo francês. Mas prefiro dizer que este texto, A Cerimônia do Adeus, me ajudou a compreender a serenidade diante dos fatos. O enfrentamento da dor, no lugar do desconsolo compulsivo. Alegra-me ver a obra retornar às prateleiras das livrarias, em uma conjuntura social, política e econômica bastante distinta. Tinha meus 23 anos quando mergulhei no relato sincero de Simone, sobre seu companheiro que fenecia aos poucos e ao contrário da repulsa hipócrita descrita nas crônicas da época, senti uma poderosa adesão à narrativa fria e bem-posta. 

O que ela oferece? Em suma as circunstâncias de uma vida, os últimos dez anos do convívio com Sartre e os vestígios de uma prática engajada com os temas do mundo ao redor: no início, a palavra que transcende os gestos, a celebrá-los em sua plenitude, e que aos poucos dá lugar à palavra que se contém nos gestos, o angustiante ensejo de preservá-los do fim. Simone escreve, como diz, para os amigos de Sartre, mas sobretudo para si, para certificar-se de que a força da tragédia que nos arrebata a alma é o mais caro desígnio da condição humana. Uma obra para se desvelar a fenomenologia dos sentimentos que nos espreitam e nos possibilitam renascer.