20 setembro 2019

Desconstruir muros



Símbolo poderoso da participação popular nos rumos políticos de uma nação, a queda do Muro de Berlim completa 30 anos em 2019 e inspira o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) a realizar o seminário "(Des)construir muros: processos democráticos desde 1989" no Rio de Janeiro, nos dias 29 e 30 de setembro, no Museu de Arte do Rio.
O marco histórico serve como ponto de partida para se refletir sobre a ideia de democracia na contemporaneidade, com destaque para o aprofundamento das polarizações no Brasil, na Alemanha e no mundo, e o papel da sociedade civil na desconstrução de muros e nos processos democráticos. Nessa perspectiva, o seminário se organiza em três eixos temáticos:
1- Polarizações e retrocesso democrático,
2 - As tecnologias de comunicação nos processos democráticos,
3 - O Muro e sua produção simbólica: pontos de atrito.

Veja aqui o programa do seminário.
Reuniremos ex-bolsistas do DAAD e pesquisadores brasileiros e alemães das Ciências Sociais, Ciências Políticas, Comunicação Social, História, Filosofia, Direito, Geografia, Artes e áreas afins para uma série de palestras e debates.
O primeiro dia (29/09) será aberto com uma contextualização histórica para criar uma base sólida para as discussões. No segundo dia, os participantes se dividirão em três grupos de trabalho para aprofundar as questões de cada eixo temático e o resultado será apresentado como encerramento do seminário.
Inscrições abertas


Importante: as vagas são limitadas. Ex-bolsistas do DAAD receberam um convite para a inscrição por e-mail. Se você não recebeu o convite ou não é ex-bolsista, faça seu cadastro para solicitar inscrição neste link (informando nome completo e e-mail)


O evento, destinado a ex-bolsistas do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), também receberá estudantes e pesquisadores brasileiros interessados na temática proposta. No entanto, essas vagas são limitadas. Por isso, se você não é ex-bolsista, pedimos a gentileza de que, após a inscrição, aguarde a confirmação de sua participação.
Também no caso de ex-bolsistas, caso o número máximo de participantes seja atingido, o(a) interessado(a) entrará numa lista de espera, sendo chamado(a) mediante desistência.
A inscrição pressupõe que a participação esteja confirmada. Em caso de desistência, pedimos a gentileza de nos comunicar até 19/09 por meio do e-mail eventos@daadbrasil.com.br. Assim, poderemos destinar a vaga a alguém da fila de espera e garantir o bom aproveitamento dos nossos recursos.
Entre os palestrantes, estão pesquisadores do Brasil e da Alemanha:
  • Profa. Dra. Andrea Ribeiro Hoffmann (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
  • Prof. Dr. Fábio Vasconcellos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
  • Profa. Dra. Jeanette Hofmann (Universidade Livre de Berlim e Weizenbaum-Institut für die vernetzte Gesellschaft / Instituto Weizenbaum para a Sociedade Conectada)
  • Prof. Dr. Lucio Rennó (Universidade de Brasília)
  • Prof. Dr. Luís Edmundo de Souza Moraes (Coordenador do Núcleo de Estudos da Política - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
  • Prof. Dr. Marco Antonio Bin (Pontifícia Universidade Católica São Paulo)
  • Prof. Dr. Sebastian Thies (Universidade Eberhard Karls Tübingen)
  • Profa. Dra. Thamy Pogrebinschi (Wissenschaftszentrum Berlin für Sozialforschung / Centro de Pesquisa de Ciências Sociais Berlim e Professora Colaboradora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ)
Serviço:
Data: 29 e 30 de setembro de 2019
Local: Museu de Arte do Rio (MAR)
Praça Mauá, 5 - Centro, Rio de Janeiro
Programação: www.daad.org.br/desconstruirmuros



11 setembro 2019

Conversa para boi dormir

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A conversa mole, o sonambulismo aconchegante

Em meio ao incêndio que toma conta da civilização brasileira, que passa pela brutal restrição das verbas de financiamento na educação, passa pela censura artística e alcança o fogo literal na floresta amazônica, nada mais anacrônico do que topar com os infindáveis debates esportivos na televisão. 

A loucura destruidora do atual (des)governo desmonta o substrato da nossa vida cotidiana, mas a velha discussão futebolística com os mesmos ingredientes de sempre, as jogadas polêmicas e a eloquência dos palpites não perdem o espaço midiático e segue confinando o pobre povo brasileiro à sucessão infindável de argumentos sobre temas absolutamente descartáveis, que ao fim e ao cabo nada acrescentam à razão crítica para a compreensão da realidade em que vivemos.

Dotados de um padrão que promove o rodízio de emoções calcadas na exploração dos acontecimentos que se repete a cada rodada - o enaltecimento dos bem-sucedidos e a crucificação dos fracassados - a roda da fortuna não cessa de girar em torno dos debates espetaculosos, que se apresentam como um imenso floco de algodão doce, tão atraentes quanto dissipáveis à primeira degustação. 


O mais interessante é que por duas horas ou mais os atores conseguem produzir da bolha futebolística um complexo universo paralelo, carregado de especulações, para ao final sobrar o vazio do resto da noite. Nada se define ou se explica porque assim deve ser, a bolha deve permanecer como o fundamento da vida, no afã de torná-lo um produto indispensável.

Esses atores são capacitados para isolar as discussões futebolísticas do futebol, sem integrá-las ao contexto social, econômico e político, como se o esporte mais apaixonante do país pudesse permanecer segregado aos quatro lados do campo. O fake da natureza dos debates alimenta a bolha das especulações fugidias das análises e nenhum deles, sejam jornalistas, ex-jogadores ou convidados outros, ousam atravessar a sinfonia de análises fragmentadas, trazendo algum elemento mais crítico que remeta à realidade social. 


Nenhuma referência mínima que seja às boas referências literárias do esporte que contemple o negro, o homossexualismo, a violência, a pobreza, dentre outras. Nada. Apenas o chafurdar na mesma lama de sempre, onde o mais audaz dos comentários é descartado no momento seguinte ao final de cada programa.

-o-

Ontem eu e Mônica tivemos uma demonstração da bestial percepção de mundo do eleitorado desse sujeito que nos desgoverna. Refiro-me ao eleitorado que votou nele e persiste em adorá-lo como mito. Trata-se de uma ignorância abismal e cansativa. No fundo, carregam uma profunda e confusa amargura e não fazem ideia o que seja sofrer com isso, pois a transformam em ódio ao outro, ao outro diferente, e se satisfazem com isso. Para esse tipo de gente, não existe a dinâmica do processo histórico, não existe a construção social com base no conhecimento científico.

Em suma, teremos de retomar a democracia na marra, contornando essas pessoas que persistem na intolerância. As representações sociais democráticas devem assumir o enfrentamento político. Assistir politicamente o desmonte do país é que não dá.


(atualização do texto, 07.10.2019)