22 julho 2013

Un día tras otro




Qué me importa ese momento fungible, que se pierde con mis pasos, sino para recordar mis tiempos llenos de amor y cariño? Por unos días solo quedará el recuerdo de una sonrisa preciosa, unos ojos llenos de azur, las palabras que encienden al cuerpo roto... 

Ahora, no más que las luces del invierno, el aroma de los árboles, los colores de las sonrisas esparcidas por las calles, llenas de caminantes sin camino...

Asi me quedo en la plaza San Martín, reconozco a los ancianos que charlan, en los bancos alrededor de la estatua, atrapada por una multitud de chicos que suben como hormiguitas a los escalones, toman unas fotos con sus papás, quietitos por un rato y pronto reanudan con la algarabía...

Más allá, un hombre con el sombrero abraza a su esposa, le sonríe dulcemente y le habla de su amor. A los dos como a todos en la plaza el sol abarcanos con sus rayos encantados y nos calienta... 

Me gusta disfrutar los silencios de Cordoba, las sombras de los dioses imaginarios, los sonidos de las campanas que doblan por los tiempos infinitos... y una vez más ese sentimiento que logra acercarse de mi corazón, como a lucir vivamente mi alma...



21 julho 2013

Filhos, netos, percursos

Névoa noturna em BsAs

Da janela do quarto, desvelo sistematicamente a paisagem urbana, na companhia de uma taça de vinho e de recordações. A densa névoa com ares expressionistas acoberta a noite, destacando o cintilar brilhante da iluminação pública, cada lâmpada envolta por uma auréola leitosa, sutil, que esparge a luz em um largo entorno. A praça do Congresso se aprofunda em seu silêncio de recolhimento, nem mesmo os cães, com seus latidos pontiagudos. Poucos são os veículos que persistem a passar na direção da Callao e mais além, na verdade transitam tomados pela urgência de chegar. Cá em cima, já não tenho como divisar o fundo da cidade, a plêiade de topos eretos, adensados e adormecidos. Minha visão se contém à linha de edifícios, do outro lado da praça, sem nenhum destaque, a não ser à minha esquerda, os generosos letreiros do cine Gaumont, recentemente reaberto, a imprimir sua marca tradicional para as sombras do espaço público.

Nenhuma novidade, a não ser os esparsos registros mentais da última mesa da noite, nas Jornadas de Sociologia. Um colegiado de professores, pesquisadores e exilados guatemaltecos expuseram a história da primavera democrática da Guatemala, que se iniciou com a eleição de Juan José Arévalo, em 1944, e se aprofundou com Jacobo Arbenz, para então ser violentamente retirado do poder pela CIA. Ah, quantas histórias marcadas a ferro e fogo em nossa América Latina, quantas lutas brutais, ganhas e perdidas, quanto orgulho desperdiçado, quanta covardia recompensada! Como um jogral, as vozes foram apresentando partes previamente combinadas do processo histórico guatemalteco.

Um dos mais idosos, professor aqui em Buenos Aires, e que saiu do país logo após o golpe de estado de 1954, nos deliciou com uma narrativa permeada por reminiscências da infância. Contava o quanto tinha sido importante para o país um homem como Arbenz chegar ao poder, aprofundar as reformas sociais e perceber as mudanças, desde as mais singelas que lhe envolveram diretamente, como aquela de cada propriedade rural convocar um sapateiro que fizesse o molde dos pés dos trabalhadores, para que pela vez primeira, pudessem calçar sapatos! E falou das recordações do rádio, das comemorações populares nas ruas, da transformação que um punhado de professores e estudantes, assumindo o poder, proporcionaram ao país.

No meio dos apresentadores, Miguel Angel Asturias, o filho. Foi, aliás, quem me motivou a ir a esse encontro, depois de ver seu nome na programação da noite. Caminhei as mais de dez quadras, do hotel até a Faculdade de Ciências Sociais, os pensamentos livres, volteando as impressões mais imediatas, revisitando o baú do imaginário, com suas trajetórias de vida em suspenso. Já tarde para uma palestra sobre a história da Guatemala, na sala se reuniam umas vinte pessoas entre estudantes, professores e convidados. Diante da mesa, o círculo de palestrantes guatemaltecos, que descreviam aspectos específicos do governo revolucionário, primeiro com Arévalo, depois com Arbenz.

O silêncio de Asturias, filho, se apresentava como um distanciamento de corpo e mente da reunião, como se ligasse a outras paragens, lembranças talvez de pequeno, quando o pai conduziu a família para o exílio em São Salvador, viagem tumultuada, sem fim, pois o golpe impôs barreiras que eram superadas uma a uma após o reconhecimento de que se tratava do grande escritor Miguel Asturias. Mas para que o reconhecimento dos papéis se procedesse, era necessário encontrar alguém nas redondezas que fosse alfabetizado, o que nem sempre era tarefa simples no interior da Guatemala.

Mas bastou chegar o momento de sua fala, para que o vozeirão se encorpasse ao brilho do semblante, e assim descrevesse sua experiência pessoal dos anos Arbenz, em que seu pai, autor de El Señor PresidenteHombres de Maíz, atuou como embaixador. Na verdade, Asturias, filho, foi o terceiro descendente de uma grande personalidade, que assisti e me marcou ao longo dos anos.

O primeiro deles, no longínquo tempo de graduando, foi o neto de Trotsky, Esteban Volkov, convidado a falar sobre a revolução bolchevique, no auditório de Geografia da USP, época em que devorava impressionado o último livro da trilogia de Isaac Deutscher, O Profeta Desarmado. Vagas recordações, não me lembro de qualquer palavra de sua fala em castelhano, porém, marcou-me sua expressão corporal, a larga testa do avô, o olhar plácido e a circunspecção de quem flutuava pelas lembranças dos anos de exílio em Prinkipo ou Coyoacán...

Poucos anos depois, foi a vez de me deparar com um raro descendente, o tenista indiano Ramesh Krishnan. Na época, eu não só praticava tênis, como era um apreciador da história do esporte. E sabia que o Brasil havia perdido a semifinal da Davis, em 1966, para a Índia. Na ocasião, a dupla mais espetacular do tênis brasileiro, os gaúchos Thomas Koch e Edson Mandarino, fizeram história eliminando diversas seleções europeias e dentre elas a forte seleção dos EUA, que contava com o jovem Arthur Ashe. No último jogo, Koch, teve a partida nas mãos, mas caiu por 3 sets a 2 para Ramanathan Krishnan. Teríamos ido para as finais, com chances de vencer a Austrália. Nunca mais ficamos tão perto de uma conquista da Davis.

Peripécias, nada mais que peripécias reflexivas. Vinte e cinco anos depois desse episódio, no clube Pinheiros, encontrei o filho de Ramanathan, Ramesh Krishnan, logo após a derrota para Luiz Mattar pela mesma copa Davis, tranquilamente sentado nas arquibancadas, assistindo ao jogo de seu compatriota Leander Paes contra Jaime Oncins. A vitória de nossa equipe já estava consolidada e permaneci o suficiente para perscrutar por um tempo o homem que incorporava Ramanathan Krishnan. Observando-o em seu silêncio alheio, era como se eu pudesse domar a imagem poderosa de seu pai, exercitando assim o imaginário simbólico semelhante ao que nossos ancestrais pré-históricos realizavam nas paredes das cavernas...

...

Meras reminiscências testemunhais sobre descendentes de personalidades que me marcaram, em momentos distintos da vida, por razões diversas. Desejei apenas transcrever as impressões longamente preservadas, que revelam ao menos uma fugaz coincidência: olhares dispersos, despretensiosos, dimensionando expressões tão modestas quanto podem ser os percursos de uma vida comum.   



20 julho 2013

Oliverio Girondo

Catedral N.S. de la Asunción, Córdoba


Descoberta de viagem, circulando por ruas ensolaradas, tomadas pelo ritual matinal de um sábado, os cordobeses desejosos do espaço público, passeando, conversando, famílias, crianças, amigos, los perros, o sol imenso e generoso, o friozinho invernal, meus passos me conduzem ao acaso, por las calles densas, llenas de ritos y conjuros serenos, uma livraria que me convida, pequena, dócil, folheio os poetas, o livrinho que se me oferece, Persuasión de los días, Oliverio Girondo do qual alguma vez ouvi, mas de quem nada conhecia...
  

Nubífero anhelo

?Se intentara una nube...
una pequeña nube,
modesta,
cotidiana,
transportable,
privada?

Quizás con el recuerdo,
el cansancio,
la pipa,
después de algunas noches
y de mucha paciencia.

!Qué alívio el de sentirla debajo del sombrero,
o saber que nos sigue
como si fuera un perro!


Desmemória

Primero: ?entre corales?
Después: ?debajo tierra?
Más cerca: ?por los campos?
Ayer: ?sobre los árboles? 

Quizás.
Es muy probable.

Pero ?qué hacer?
!Decidme!

Me baño.
Como pasto.
Escarbo.
Trepo a un árbol.

Es inútil.
Inútil.

!Son demasiados siglos!

No puedo recordarlo.


(extraído do livro Persuasión de los días, Editorial Losada, 2007)




07 julho 2013

Golpe e Exílio




Concluí a leitura de Golpe e Exílio, de Darcy Ribeiro em um agradável café portenho, próximo ao Congresso. São palavras de um espírito audaz, que em um primeiro momento descrevem o despropósito de uma ação golpista, longamente urdida, e na parte final, expõem o processo de exílio e do retorno, que ocorre pouco antes do AI-5.

Ao contrário do que poderia parecer, este relato não tem amargura, nem tampouco o espírito vingativo de uma lembrança dolorosa. Darcy rejunta os fatos e os expõe de modo didático, de quem viveu por dentro um regime condenado desde o princípio pelas elites e pelos militares deste país. 

Acompanhamos seu inconformismo diante do fracasso em restabelecer o marco constitucional, seu desprezo pontual por um ou outro ator social que podendo interferir optou por não fazê-lo, e sua clara percepção da irreversibilidade dos fatos, ao empreender uma espetacular fuga por caminhos pouco convencionais, até Montevidéu, no Uruguai. 

Nesta altura, quando poderíamos esperar por um acerto de contas com a história, Darcy expõe a irreverência de sua alma, contando-nos da nobreza de seus anfitriões uruguaios, convidando-o a participar da vida acadêmica e intelectual do país, descrevendo com humor suas emocionadas aventuras. Seu texto compõe um estilo elegante, apresentando-nos uma vida ativa e intensa, alimentada por suas convicções políticas e pelo imenso amor ao Brasil. 

Seu percurso natural de político e intelectual foi marcado por descontinuidades, e ao meu ver o mais grave, pelo descaso. Neste aspecto, o mundo foi-lhe mais gentil no acolhimento de sua obra. Na contracapa do livro há um pequeno texto de Galeano, seu amigo no exílio, que nos fala de Darcy Ribeiro aceitando o título de Doutor Honoris Causa da Sorbonne pelo mérito de seus fracassos. E prossegue alinhando cada um deles, para ao final concluir, Estes são os seus fracassos. Estas são as suas dignidades.



04 julho 2013

As Culturas das margens



- Minha discussão propõe uma abordagem sobre as culturas das periferias, em especial, sobre a literatura, ou como denomino, as escrituras marginais. Falarei um pouco sobre quem são os poetas, e como eles se manifestam - o que pretendem em seus encontros poéticos.

- Destaco um coletivo chamado Cooperifa, localizado em um dos bairros mais precários de São Paulo, no Jardim Guarujá, zona sul da cidade.
- Para entendermos as funções deste grupo de poesia, falarei rapidamente  sobre o espaço urbano de uma cidade segregada pelos muros, resultado de uma profunda desigualdade social ainda presente.

- Falar sobre os encontros poéticos nas periferias é falar de uma performance que busca definir uma identidade, uma relação de pertencimento ao lugar, e com isso, mobilizar uma forma de resistência.

- Os jovens das periferias paulistanas compõem-se em grande parte por netos dos migrantes dos anos 1950/1960, que chegaram massivamente vindos do Nordeste brasileiro, em sua maioria analfabetos e sem profissão definida.

- Até os anos 1980, podíamos falar em uma oposição clara centro-periferia; até então, a classe média se concentrava na parte central, e os pobres eram expulsos para as regiões mais afastadas;

- De lá para cá, o boom da construção civil e do transporte particular estimula as classes médias e altas a se transferirem da região central, ocupando os countries, ou condomínios fechados, muitas vezes ao lado de uma favela (villa miseria), aprofundando a segregação. (conf. Bauman - guetos voluntários/reais - filme mexicano La Zona);

- Para Villaça, a estruturação interna do espaço urbano “se processa sob o domínio de forças que representam os interesses de consumo (condições de vida) das camadas de mais alta renda” (v. quadrante sudoeste); 

- Hoje o espaço urbano é um entramado de trajetórias, “de linhas que se cruzam e entrelaçam, que atravessam e transbordam os domínios estritos da pobreza e da riqueza” (Telles);

- Neste ponto, gostaria de observar as possibilidades dos circuitos de cultura das periferias, mobilizadores e agregadores especialmente por aqueles atores sociais à margem, e que desejam uma participação mais efetiva, com base nas aberturas dos movimentos e das culturas populares. É sugestivo que a opção dos saraus poéticos seja de entretenimento, mas também de constituição da cidadania;

- Os encontros poéticos das periferias - enfrentamento das demandas específicas de um segmento da sociedade deslocado para territórios da precariedade, e que se articula em torno dos desejos coletivos de transformação (sócio-política-cultural);

- a declamação da poesia torna-se a expressão da visibilidade; há um aprendizado didático na performance: nela, a palavra que não se esconde, e que ao se mostrar, quebra o silêncio, “se afasta da ordem muda” (Zumthor);

- Os saraus são esses encontros de sagração poética, eles têm a força de irmanar os frequentadores em um espírito de coletividade, que desvela paulatinamente – via escritura – o mundo em que vivem, em seus ângulos menos comuns e mais surpreendentes. Não há a preocupação em se produzir uma literatura bem escrita;

- O importante é essa “reciprocidade de relações entre o interprete, o texto e o ouvinte” (Zumthor);

- A escritura marginal se alimenta de informação e conhecimento, mesclando-se com a matéria-prima disponível em profusão, a invisibilidade cotidiana. A luta em forma de resistência cultural;

- Para concluir, as palavras de Ernesto Sábato (Antes do Fim):

“El hombre de la postmodernidad está encadenado a las comodidades que le procura la técnica, no se atreve a hundirse en experiências hondas como el amor o la solidaridad. Pero, paradojicamente, solo se salvará si pone su vida en riesgo por el outro hombre, por su prójimo, o su vecino, o el chico abandonado en el frio de la calle”.


(tópicos que organizaram minha exposição do texto 'As Culturas das Margens e o Espaço Segregado em São Paulo', nas X Jornadas de Sociologia da Facultad de Ciencias Sociales, UBA)