07 dezembro 2008

Expulsos do paraíso


Eles estão por toda parte, como os pioneiros de uma invasão prometida. Perambulam sem direção definida, ou mofam ocupando os cantos da avenida, nem sempre silenciosos. Quando falam, dão voz à alucinação do momento, doce companheira de um infortúnio sem fim. Assim, é possível vê-los declamando, blasfemando, ou apenas em meio a um solilóquio libertador. Quando cessam, retomam o olhar sem porto, compenetrados no silêncio inescrutável.

A espacialidade da invasão é o centro financeiro mais importante deste país, a avenida Paulista. Lugar em que se realizam as mais importantes negociações, onde circulam milhares de executivos e empresários bem-sucedidos, onde as marcas do sucesso se apresentam na imponência dos edifícios, na pujança dos automóveis importados, na disseminação de produtos globais. Este, o mundo invisível dos fluxos financeiros que decidem o equilíbrio econômico de uma nação, e porque não dizer, também o desequilíbrio de milhões de cidadãos, que aos poucos mergulham na invisibilidade social.


Não se trata de uma manifestação anunciada; por falta de onde caírem mortos, esses invasores surgem para a última cartada, tentando se amparar nas migalhas onde há intensa circulação de capital. Não interpelam aos transeuntes porque perderam a iniciativa do diálogo, ou porque intuitivamente saibam que o mundo os perdeu. Sair do recanto concedido para abordar as pessoas sempre apressadas lhes parece menos atraente do que prosseguir no ritual de lançar palavras ao vento. Nada do mundo ao redor lhes parece ao alcance, não há como se converter ao ritmo incontrolável, o que os convence de que estão de fato perdidos para o mundo.


Alguém poderia dizer que, como humanos, estão sendo expulsos pela segunda vez do paraíso. Eu diria que não foram expulsos, mas que optaram por sair dessa ilusão de um mundo de oportunidades. Um mundo cada vez mais exclusivo e descartável não pode, definitivamente, arrogar-se como um paraíso a ser almejado.


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