21 dezembro 2008

Futebol S/A



Só posso dizer que os domingos ficaram um pouco mais suportáveis sem o futebol. Nada contra o esporte, mas sim contra o negócio. A diversão proporcionada pelo prazer da prática do esporte bretão foi grosseiramente absorvida pelo mercado, transformada em um amontoado de interesses que se conectam e que proporcionam um produto rentável. Com isso, vendem-nos - por seus arautos da mediocridade, os locutores esportivos - uma emoção embotada, artificial em sua montagem, nefasta em sua finalidade, que nos esvazia a cada final de tarde.


Por isso, talvez, o alívio desta época, por não termos esses mediadores desesperados a nos dizer como devemos nos emocionar, como devemos reagir, como não devemos pensar.


Sem o futebol-negócio, as tardes ficam mais sossegadas, as famílias ficam com o tempo para si, as ruas se enchem. As torcidas uniformizadas não medem forças, os repórteres esportivos não fazem as mesmas perguntas babacas, os jogadores não dão as mesmas respostas. Não há mesas-redondas repercutindo lances polêmicos, nem cartolas querendo vender sua falta de imaginação.


Pois o futebol como mercado nada mais é do que o espetáculo que se deseja vender e extrair dividendos. Não interessa como ou de que maneira. Só nos damos conta da fragilidade da alma diante de tanta expropriação ao percebermos essa trégua momentânea... Então recuperamos o desejo efêmero de pensar o futebol como ele é, nas rodas de amigos, restabelecendo o prazer e a diversão...


Até que a engrenagem volte a girar massacrando a todos, porque tornou-se essencial capturar e adestrar a emoção.



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Vale muito a pena a leitura do artigo do professor Luiz Gonzaga Belluzzo, Pirâmides e Miragens, publicado na revista Carta Capital desta semana. Destaco um pequeno trecho:

"Mesmo diante das provas contundentes a respeito da promiscuidade entre desregulamentação e práticas fraudulentas, os gênios da 'nova economia' estão na mídia dispostos a utilizar quaisquer argumentos para desqualificar as críticas aos métodos e procedimentos utilizados no ciclo financeiro recente. (...) Os últimos acontecimentos protagonizados pelos mercados mostram que é preciso conter a mula-sem-cabeça da finança desregulada. Sob pena de as economias nacionais e seus cidadãos serem atormentados periodicamente pelas tropelias da mão invisível. (...)"


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