(...) A sofreguidão das últimas semanas termina em uma ressaca insossa e aparentemente nada didática. À submissão do México (iniciada em dezembro) sobrevém a debacle argentina, gradual, porém ruidosa. Desde a minha visita, em fevereiro de 93, ficou muito claro que os indicadores sociais eram – para dizer um termo suave – tenebrosos. Preços altos, estáveis sim, porém em patamares elevados; uma enxurrada de eletrodomésticos importados nas vitrinas; a pobreza tomando conta das ruas, poucos indícios de que o plano de estabilização visava um equilíbrio social. Menem escancarou a Argentina ao capital estrangeiro, sem que se pudesse verificar alguma vantagem ao país. Fui obrigado a solicitar auxílio da telefonista para uma ligação internacional de péssima qualidade; A YPF foi rendida ao setor privado; o transporte público prosseguiu seu doloroso sucateamento, o custo dos produtos e dos serviços nas alturas!(...) Mas o que me convenceu do blefe neoliberal foi a insatisfação popular. Bastava cutucar as pessoas para que elas saíssem de uma certa apoplexia mental e enveredassem para uma argumentação hostil à política em andamento.
Chocou-me a brutalidade da ação de desmantelamento: foi como se a população fosse colocada parcialmente a par das decisões políticas, por sua vez tomadas em uma esfera absolutamente inacessível, por gente mais sintonizada com os interesses externos. E foi como se, simultaneamente à cadeia de decisões "em prol do melhor para a nação", essa gente mandasse a soberania do país à pqp... Na realidade, essa gente quebrou os mecanismos de atuação e participação do povo, solapando a organização sindical do país, enquanto a mídia fazia sua parte nessa empreitada neoliberal. Senti-me de certo modo agoniado em vivenciar uma realidade tão amordaçada, tão desesperançada e entregue nas mãos de tão poucos canalhas sem faces, subservientes...
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Pois de fevereiro de 93 a março de 95 a Argentina vem soçobrando, sem perspectivas de uma vida justa e participativa. Nessa esteira de fatalidades econômicas, o Brasil pinta ao horizonte. Não é possível que as forças neoliberais ainda encontrem eco em meio às ruínas que semeiam em nossa miserável América Latina! (...)
Pois de fevereiro de 93 a março de 95 a Argentina vem soçobrando, sem perspectivas de uma vida justa e participativa. Nessa esteira de fatalidades econômicas, o Brasil pinta ao horizonte. Não é possível que as forças neoliberais ainda encontrem eco em meio às ruínas que semeiam em nossa miserável América Latina! (...)
(in Diários, sexta-feira, 24 de março de 1995)
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