Vejo em meus papéis, na ordem, Para presidente da SIP, Lula ameaça democracia (Folha, 17 de julho de 2010), e mais adiante, SIP critica 'escalada contra liberdade de imprensa' na Argentina (O Estado SP, 24 de agosto de 2010).
No primeiro caso, o cubano miamero Alejandro Aguirre, afirma que Lula, pasmem os senhores, "não pode ser chamado de democrático". E mais adiante, o define, na companhia de Chávez, Evo, Cristina, como governantes que 'reduzem a liberdade de imprensa'. O tal Aguirre, ao longo de sua entrevista, atira para todos os lados, indicando fraqueza da democracia do Brasil, juntamente com o que ocorre na Argentina e no Equador.
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O jornalão da Barão de Limeira prossegue dando espaço para a voz boçal: "Temos governos que se beneficiaram das instituições democráticas, de eleições livres, e estão se beneficiando da fé e do poder que o povo neles depositou para destruir as instituições democráticas"(...) (grifo meu). Tais declarações foram tomadas como preâmbulo para o ataque brutal que a velha mídia se utilizaria nas eleições presidenciais no Brasil. Em outras palavras, começava a preparar o terreno para a cobertura tendenciosa que realizaria nos meses de setembro e, principalmente, outubro, buscando desequilibrar a disputa a favor do candidato sem projeto e cooptável pela elite dominante, José Serra.
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As questões decorrentes dessa entrevista desastrosa (quem é mesmo Alejandro Aguirre?) são diversas, vamos a algumas: 1) Onde está o desdobramento desse pensamento inebriante, no qual Lula significa um mal à liberdade de expressão? 2) Por que tal comentário foi assacado em momento tão propício para uma 'campanha' contra o governo Lula? 3) Por qual razão questionar o posicionamento político de governos eleitos democraticamente e que se norteiam por programas políticos de inclusão social, sem privilégios de classes sociais? Em outras palavras, por que contestar raivosamente a ruptura programática, não alinhada aos 'eternos donos do poder'?
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É o que ocorre com a manchete do Estado, em relação à Argentina. Também utilizando-se da malfadada SIP, a matéria se insurge contra a ação do governo Kirchner em romper os privilégios da empresa Papel Prensa, a principal fabricante de papel jornal do país, para com os diários La Nación e Clarín. A matéria, mais uma vez tendo como protagonista o tal Aguirre, destaca a preocupação da SIP, que "vê com muita preocupação a disputa do governo contra os meios de comunicação críticos e também o modo pelo qual a liberdade de imprensa pode sofrer com interesses políticos".
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Qualquer mortal que lê de maneira crítica Clarín ou La Nación compreende o que significa estar alinhado com 'interesses políticos'. Nesse momento, travava-se (e ainda se trava) um intenso debate público sobre o histórico do poder midiático tradicional e seus miseráveis privilégios, investidos desde os governos militares (1976-1983). A preocupação do Estadão em sua matéria não era outra senão alinhar-se aos interesses ideológicos de seus correlatos argentinos, defendendo-os da quebra dos monopólios midiáticos conduzido pelo governo de Cristina Kirchner.
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Por trás desse movimento da mídia hegemônica, subsistem os residuais interesses da famigerada política neoliberal. Como bem descreve Sandra Russo, jornalista e escritora argentina (Página 12, 17 de agosto de 2010),"Te dou um guarda-sol amarelo e ponho bancos de designers nas praças do norte (zona rica de Buenos Aires), mas fico com os recursos dos hospitais e não executo o orçamento da educação"... E na continuação de seu argumento, "E quanto ao emprego, se pudessem, cortariam sistematicamente as cabeças, de novo, a cada conquista e dariam baixa nos subsídios trabalhistas"...
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Russo conclui, "O modelo que (os neoliberais) têm em mente não tem qualquer resposta para o mundo do trabalho, já que é em si mesmo a resposta do mundo do capital para o Estado do bem-estar". De algum modo Bauman nos antecipou essa análise, quando diz que o Estado social é substituido pelos interesses do mercado. A voz mansa do oligopólio midiático se coloca em sintonia com os ensejos de uma alquebrada elite, insensível às demandas populares. Juntos, não toleram a presença do contradito dos novos atores sociais, cada vez mais conectadas nas mídias eletrônicas.
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O poder midiático custa a entender como se constrói a diversidade social, que se pauta não pelo privilégio vertical, classista, impositivo, mas pela expansão horizontal, democrática, dos interesses. Enquanto isso não for entendido em sua formulação tão natural, os cidadãos de bem continuarão pagando o preço da dura luta por uma sociedade mais justa, e longe das garras da SIP.
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