Daniel divide sua atenção entre o café servido e a garota na mesinha em frente, uma inesperada e sem dúvida agradável presença. Ela dá mostras de estar em meio às compras, num breve interregno para um chá, observando despreocupadamente os passantes da Callao, através das vidraças encortinadas. Encontra-se imersa em devaneios, bem possível que também em férias, pensando em como aproveitar o sol de verão que se espraia de modo generoso nestes dias. Mexe com cuidado o adoçante em seu chá e, num movimento ligeiro com a cabeça, arruma os cabelos lisos, que se prolongam até a altura do ombro. Tal artifício a permite lançar um olhar furtivo para o homem que a observa. A singeleza dos subterfúgios femininos: prontamente seus cabelos voltam a se esparramar pela fronte, de novo protegendo-a da mirada de cobiça, a mão suavemente girando a colherinha no chá, como se nada houvesse acontecido.
Daniel sorve seu café e procura manter a xícara suspensa no ar, próxima à boca, com a concentração fixa nos movimentos da jovem. Sobre a mesa a máquina fotográfica. Repõe suavemente a xícara sobre o pires e decide surpreender a mulher com uma foto imprevista. Sua câmara é discreta o bastante para a rapidez necessária, alimenta o desejo de um retrato da mulher portenha. Toma a máquina nas mãos e numa fração de segundo imagina como pode ser o enquadramento, sem despertar sobressaltos. Observa-a mais detidamente, espera que ela prossiga absorta em suas reflexões, tão delicadamente distraída. Traz então a máquina à altura dos olhos, enquadra a musa e dispara o obturador silencioso, tudo muito rápido, logo retorna à posição inicial, a máquina sobre a mesa, a xícara de novo na mão, o olhar assestado para a jovem solitária, a menos de três metros...
Daniel sorve seu café e procura manter a xícara suspensa no ar, próxima à boca, com a concentração fixa nos movimentos da jovem. Sobre a mesa a máquina fotográfica. Repõe suavemente a xícara sobre o pires e decide surpreender a mulher com uma foto imprevista. Sua câmara é discreta o bastante para a rapidez necessária, alimenta o desejo de um retrato da mulher portenha. Toma a máquina nas mãos e numa fração de segundo imagina como pode ser o enquadramento, sem despertar sobressaltos. Observa-a mais detidamente, espera que ela prossiga absorta em suas reflexões, tão delicadamente distraída. Traz então a máquina à altura dos olhos, enquadra a musa e dispara o obturador silencioso, tudo muito rápido, logo retorna à posição inicial, a máquina sobre a mesa, a xícara de novo na mão, o olhar assestado para a jovem solitária, a menos de três metros...
Está radiante, a imagem perfeita, sem artifícios de montagem. Prossegue a sondagem visual em busca de qualquer reação da mulher enigmática, que segue em sua indiferença pelo que se passa diante de si. Daniel chama o garçom, pede mais um café, por um momento, nada mais que um breve momento, abandonando o desenho exuberante das sobrancelhas, o entramado do cacheado ruivo, a boca saborosa, adornada em um tom encarnado vivo, talvez, quem sabe, prestes a abrir-se em um sorriso convidativo... deixando escapar o insinuante gesto da musa, que retira da bolsa uma minúscula pistola prateada, apontando-a com todo o charme na direção dos olhos que retornam intrépidos, sem tempo, porém, para demonstrar surpresa.
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