09 maio 2009

Restos de Walker


Jim faz parte do exército de ocupação de cento e cinquenta mil soldados. Mais algum tempo – que não sabe precisar ao certo – e regressará ao Arizona onde Beth, sua noiva, o espera. Enquanto isso, Jim, um sujeito corpulento e com cara de tomate, faz parte de um regimento que, em tese, garante a segurança de zonas específicas de Bagdá. Considera-se um homem feliz, embora a conjuntura atual lhe ofereça uma perspectiva um tanto estagnada. As cartas de Beth e a leitura da bíblia o amparam ao longo das noites sem fim. Sorri nervosamente quando lhe pergunto se acredita que voltará para casa agora que terminou o governo Bush. Olha para um retrato de Beth pregada na parede do dormitório. Não sabe responder, apenas acredita que será feliz ao lado da futura esposa, em um rancho confortável no meio-oeste, com muitos filhos. Não sente raiva ou indignação, ao contrário, crê que sua atuação colabora para o restabelecimento da normalidade no Iraque. E o que é restabelecer a normalidade, Jim? O soldado me encara com uma expressão indefinida, É dar uma chance a esta população de viver democraticamente...

O que Jim Cara de Tomate pensa da democracia? É o que lhe disse, a chance das pessoas viverem com dignidade... me diz, prometendo perder a paciência. Pergunto se conhece a gente desse país? Já caminhou livremente pelas ruas?, Não... responde ríspido, girando a cabeça para o outro lado. Com algum custo retomo a informalidade da conversa, passamos então a falar sobre o campeonato de beisebol, sobre hambúrgueres e automóveis, procuro deixá-lo à vontade para ganhar sua confiança. Jim acende um cigarro e após duas ou três tragadas mostra-se menos ansioso. Acredita no sucesso desta ocupação?, aplico um jab inesperado. Acredito que... eu... eu acredito que tenho de cumprir ordens... só isso... não me preocupo com política ou como resolverão esse problema... protege-se recuando para as cordas. Eu insisto, Cumprir ordens, mesmo que te mandem matar civis?, Não penso duas vezes, fala o Cara de Tomate, ainda mais rubro, Como diz nosso comandante, dos mortos nada a não ser o silêncio... responde-me sem afastar a expressão de incerteza diante de tudo.


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