Sentiu os primeiros indícios do
cansaço de uma longa viagem, a infalível sensação de areia fina nos olhos a
turvar a vista, o desejo de molhar o rosto, fechar os olhos, estatelar-se numa
cama, vagar sem lógica de assunto a assunto até perder por umas boas horas a
consciência... Sob o luar de uma noite quente de verão, uma vaga reminiscência
acudiu-lhe os avós e primos desfrutando a varanda, brincadeiras imemoriais na
rua sem asfalto, em tardes empoeiradas... Deixou-se levar por resgates
longínquos, enquanto avançava sob os efeitos da aurora matinal. Tinha sido uma
escolha preciosa deixar o trabalho para dedicar-se à memória pessoal, os fatos
transformados em efemérides que jamais deixariam de fustigar-lhe, fazendo-o
retroagir, vasculhar as lembranças a cada passo naquele rincão perdido
geográfica e temporalmente, desgarrar-se da sua presença no mundo lançando-se
de maneira concreta ao encontro das notícias que adormeciam recônditas nos
cantos de Cambeville... a infância dobrando-se ao encontro do presente, ou o
presente enganando-o sobre suas certezas da infância...
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