29 novembro 2009

De outra parte...



... temos o reverso desse vento de esperança, que nos anima com suas transformações. Refiro-me ao que se convencionou denominar de eleições hondurenhas, um ato gerado nas entranhas da truculência e promovido à força, por um governo que usurpou o poder.

Entre as eleições previstas democraticamente e sua realização deformada, houve um golpe de estado. Ao longo de cinco meses, instaurou-se um aparato viciado, mantido pela alta burguesia, pelos militares e... bem vemos agora, pela anuência do departamento de estado estadunidense. Essa fórmula, tão maléfica em nossa América Latina desde a derrubada de Jacobo Arbenz, acreditava-se encerrada, em nome da democracia e da autodeterminação dos seus povos. Lêdo (e Ivo) engano, como podemos notar: as tenazes estadunidenses, ainda que fraquejadas, ressurgem para salvaguardar uma ineludível política de interesses econômicos. Movimentação igualmente inquietante ocorre no caso das (sete!) bases colombianas.

Seja como for, o mais grosseiro destas eleições hondurenhas está na cobertura do oligopólio midiático brasileiro, que, como uma extensão dos tais interesses estadunidenses, afunda em analises que mais parecem compactuar com a ficção do que com a realidade. Os movimentos de resistência ao golpe; o desrespeito contínuo aos direitos humanos, como consequência da forte presença policial e militar nas ruas; os candidatos (mais de 100) que abandonaram a disputa para não respaldar o processo eleitoral sob o golpe; os elevados gastos do governo de facto com lobistas, para atuarem junto ao Congresso estadunidense, tudo isso e sabe-se lá quanto mais, foi jogado debaixo do tapete, tratado como informação sem relevância. Um pouco foi dito em torno do fechamento de uma rádio e um jornal de oposição hondurenhos, sem que se avaliasse a essência brutal do regime. E ponto.

Assim, uma página deplorável da história de Honduras (mais uma) é virada, em nome do que se vende como democracia. Os acordos San José-Tegucigalpa também foram jogados debaixo do tapete e em mais alguns dias, o tal Micheletti retorna para 'a normalização do estado de direito'. Zelaya seguirá cerceado na embaixada brasileira, fato que continuará sendo explorado pela massa informe e descartável de boa parte da crítica jornalística.

É de se acreditar que, ao final de tudo, ela deixe inscrito nos anais do oligopólio midiático, como legado de sua pena submissa, que tudo não passou de 'um lamentável episódio hondurenho, decorrente da desastrada política externa do inepto governo Lula'...



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