08 novembro 2009

Momentos de puro deleite




Holley Martins salta da carona de Calloway e se posiciona na alameda silenciosa, salpicada de folhas. Precisa trocar umas palavras com Anna Schmidt, esta mulher que lhe atrai de modo especial. As árvores com seus galhos arreganhados enfileram-se pelo caminho, aprofundando o cinza da paisagem invernal. Ao espectador, resta a progressiva aproximação de Anna, que se move ao longe, no centro da tela. Para Martins, será a derradeira chance de uma conversa e para isso aguarda a chegada da mulher, recostado em um carrinho carregado de galhos de árvores, à margem da aléia.

O som extradiegético é da cítara de Anton Karas, a preparar o desenlace do plano sequência, transe mágico de pouco mais de um minuto, e a animar, em conjunção com o movimento decidido de Anna, a composição da cena. Nas palavras de Graham Greene, "tive receio de que poucas pessoas continuassem sentadas durante a longa caminhada da garota (...) e que saíssem do cinema com a impressão de que o fim era tão convencional como o meu". Na verdade, o final do filme de Carol Reed difere do livro de Greene em uma sutil e, segundo ele, "brilhante descoberta".

Os passos de Anna por fim alcançam Martins e, prosseguindo no sentido da câmera, abandona o quadro. A paisagem torna-se definitivamente desolada. Martins parece não se surpreender com a indiferença de Anna, move-se o suficiente para acender um cigarro.



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