07 novembro 2009

Nada a declarar

Imagem: VTV (Venezuela)

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Fico eventualmente tentado a classificar Roberto Micheletti e seu governo golpista como uma espécie de desdobramento tardio do fascismo de farda, que prevaleceu na América Latina por longos trinta anos, locupletando-se com pavorosas aventuras políticas. Mas a verdade é que ele não tem as mesmas características, até porque a nação inspiradora dos golpes latino-americanos está em baixa. Como escreveu Isabel Allende, só não ocorreu golpe de estado nos Estados Unidos porque lá não existe embaixada dos Estados Unidos.

Não faço ideia do destino desses golpistas sem face, nem tampouco da resistência hondurenha e de Zelaya. O que posso dizer é que persiste a sombra de um espectro difuso, cujas palavras proclamadas perdem-se ao vento e cuja trama se esvai no nada. Micheletti é a figura que surge das páginas do terror risível, em que o espectador gargalha em vez de se assustar, porque não é o medo a essência do enredo, mas a comédia bufa. Seja como for, comporta-se como um ator de terceira categoria, que tomou o papel principal e resolve alterar todo o roteiro.

Vejam-no ladeado por um grupo bem fornido de figurantes, que volta e meia é convocado para atuar no patético espetáculo, e que estaria mais à vontade nas compras em Miami. Uma claque, um fundo montado artificialmente, assim como artificial é a expressão do chefe. As feições carecem de substância: trata-se de uma felicidade fingida, que não convence, que não faz diferença estar ali ou não. Qualquer semelhança com o vazio de pregnância do mundo globalizado, é mera coincidência...

Um tio meu comentou que gente dessa laia, em seu tempo de ação política, era considerada como lacaio, e a expressão completa era “lacaio a serviço do imperialismo ianque”. Retomo prazerosamente o termo: Micheletti não passa de um lacaio, a serviço de uma burguesia retrógrada e inconsequente de seu próprio país.



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