Após quarenta anos encarcerado, o senhor Brooks conseguiu a liberdade. As condições em que a obteve, bem como seu crime não importam tanto quanto a análise de seu breve retorno à vida como um cidadão livre.
Brooks desde o momento em que sabe que estará livre se sente incomodado. Dentro do ônibus que o conduz para fora da prisão, tem a expressão desconfortável, de quem não aprova o desdobramento dos fatos.
Mas Brooks acede e de algum modo tenta se adaptar às circunstâncias. Dia após dia, experimenta o ritmo imponderável de uma realidade imponderável. Seu emprego como empacotador em um supermercado confirma as enormes dificuldades de assimilar o significado da liberdade.
Brooks não tem mais idade para novas adaptações na vida, e o pior, sente que o seu mundo ficou para trás. O mundo em que sabia lidar com as solicitações rudes, sem desafios, cujo único objetivo era manter-se vivo.
Nas ruas, perturba-se com desafios inesperados, deixa-se envolver em profunda incerteza. Compra uma corda bem resistente e antes de pendurar-se pelo pescoço, escreve na viga da pequena água furtada, Brooks esteve aqui.
Seu amigo Red Redding, que mais tarde passará pela mesma aflição (sem, porém, amargar o trágico final), é quem desvela o ato do amigo: ele institucionalizou-se.
O tempo o corroeu por dentro e o transformou num ataúde, à espera do próprio corpo. Tolerou ao longo dos anos a mesmice cotidiana, aceitando-a tal como um peixe acomoda-se ao aquário, satisfeito com a ração diária e com o cenário garantido.
Com o passar do tempo deixou de sonhar e, uma vez acordado, deixou de acalentar. Em uma palavra, Brooks institucionalizou-se à esperança comezinha, e dela não conseguiu sair vivo.
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