Houve, naquela terra distante, um homem chamado Fermín que persistia em crer na prevalência da dimensão humana. Não passava um dia sem deixar de apascentar as almas desvairadas com sua dedicação, estimulando-as com boas palavras. O mundo, segundo ele, possuía corações ensandecidos e abençoados, de modo que bastava compreendê-los tal e qual para a dignidade humana prevalecer.
E assim Fermín desfrutou sua longa vida em meio a bons juízos, poucas pessoas e muita fé. Preservou os gestos comedidos sem alentar os desejos insaciáveis, que sentia contagiar aos seus semelhantes. Não se preocupou com o que denominou de comportamento vergonhoso e perseverou em seu esforço solidário, cada vez mais solitário. E assim foi.
No penúltimo dia de sua vida, Fermín despertou agitado: eis que em sonho lhe surgiu uma jovem, em vestes mal apanhadas, a dizer-lhe, com proverbial serenidade que sua compreensão para com o próximo não tinha sido suficiente. Com essas palavras a assediá-lo, Fermín amargou as incertezas da profecia, em profusa multiplicação.
Foram horas de amargura a preservar o olhar delicadamente cruel da jovem, quando o abrupto colapso cardíaco interrompeu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário