Em um primeiro momento ele a tudo absorveu, aplicando a paciência apreendida ao longo de meses de convívio burocrático. Até aquela manhã, suas explicações eram corolários ricos em evasivas, divagações caprichosas e ludibriantes, que seus colegas apreciavam garantindo-lhe um futuro promissor na função. Todos os dias centenas e centenas de cidadãos o procuravam ali no Guichê de Encaminhamento Geral em busca de respostas. O homem à sua frente foi o primeiro a não poupar-lhe injúrias, sendo seguido por outro e mais outro, mas a Ernani prevaleceu o súbito frescor da melodia... the boatman calls from the lake... a lone loon dives upon the water... e que substituía o fragor das vozes e dos carimbos amalucados. Após uns instantes de imobilidade, deixou seu lugar e caminhou, a canção a dar suporte para seus atos... I put my hand over hers... down in the lime-tree arbour... sem se incomodar com o rumor da massa de desvalidos, ao atravessar o amplo salão... the wind in the trees is whispering... whispering low that I love her...
Ernani não ofereceu mais respostas, nem mesmo quando seu superior o interpelou, à saída do departamento. Uma retirada silenciosa, sem regresso possível... the boatman calls from the lake...
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