01 junho 2009

Vazio de propósitos


Os comunicadores do supérfluo estão por aí, presentes nos mais diversos meios de comunicação, atuando com toda a liberdade que o mercado lhes permite. Cacarejam, esperneiam, tripudiam, acariciam, com a pretensão de formarem a opinião pública, mas significando, de fato, um lamentável desvio da construção do espírito crítico da população. Esses indivíduos são a mais evidente prova de que, hoje, a palavra é dada para quem não tem nada a dizer. Ou para quem consegue fazer do discurso sedutoras peripécias inconsequentes. Somos informados por quem não assume o compromisso dessa responsabilidade, e que se empenha em satisfazer as exigências mercadológicas da empresa jornalística em que trabalha. Mais nada. 

Assim, vagamos sem esperanças, do big brother aos programas esportivos dominicais, dos editoriais políticos viciados aos jornais eletrônicos espetaculosos, onde o interesse maior é o índice de audiência, amealhando fatias de um público que se aliena e se apraz com cacarejos. Cabem aí todos os esforços para produzir e repercutir um vazio de propósitos. Lembro-me de um desses articulistas intocáveis da mídia impressa descrevendo uma paisagem nevada, que desfrutava de um rincão canadense. Em meio aos laivos de filosofia barata, expunha seu desânimo ao que entendia ser a bagunça da vida brasileira. Do conforto de sua hospedagem cinco estrelas, lamentava não termos passado pela experiência da guerra, como os povos do norte, pois assim, quem sabe, daríamos hoje mais valor às coisas...

Essa esquizofrenia é muito mais comum do que parece; é natural pessoas viverem em seu mundinho adocicado – bafejadas em grande parte por esses comunicadores do supérfluo – e acreditarem que nosso atraso ou nossa incompetência comunal se deve à falta de um sofrimento maior, como se ao redor delas nada de pútrido estivesse ocorrendo. A miserabilidade glauberiana anunciada como amalgama da temática do Cinema Novo, esgarçou-se de modo indecoroso e hoje as mazelas acumuladas ao longo de décadas de indiferença, fazem dos problemas sociais dos anos cinquenta e sessenta uma singela introdução da sua brutalidade.

À falta a compreensão social desse despautério, surgem simultaneamente as crônicas, artigos, comentários, palpites fora de lugar, falácias pretensamente sociológicas que não guardam qualquer relação com a realidade cotidiana. Pretendem funcionar como fábulas encantatórias, com um conteúdo chinfrim para amenizar o nada do momento... Esses comunicadores do supérfluo estão aí para galhofar o máximo possível, como a dizer de maneira provocante, “vejam como vocês são uns babacas...!”.

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