12 junho 2009

Fragmentos (2)



Os bons homens despertam para o trabalho... O que veem, o que pensam... o que querem?... Divagava, enquanto os via começar mais uma jornada de labuta. Não perdia um movimento daquela torrente de bravos, que se mobilizava em sentido contrário, homens rústicos em suas bicicletas ou a pé, marchando decididos rumo aos seus afazeres, com a expressão altiva desenhada nas faces marcadas por uma vida comum, cujo parâmetro inescapável era a rotina, as mesmas atitudes diárias, refeitas com a mesma dedicação de pai para filho, raramente quebradas pela angústia da existência, enfim, corpos que passavam, imprimindo a dialética de uma fugacidade permanente, pois que diuturnamente reproduzida... E a paisagem ao redor se erguia serena, um armazém, um boteco mais adiante, um açougue abrindo as portas, a vida renascendo e dando vida ao lugar, desenrolando-se em sua beleza, tão incógnita quanto vigorosa. O dia nascia com os pássaros voluteando no céu de um azul incólume e com aquele movimento humano, regido pela discrição. Ângelo portava o peso da metrópole, o som 'Up to my neck in you' ressoando pelos neurônios, enquanto usufruía o frescor da cena, deleitosas imagens impressionistas; no momento, não passava de um olhar intruso que fustigava a calma provinciana, um desconhecido que caminhava ao sabor do acaso, sem despertar suspeitas a não ser miradas generosas, que de quando em vez se deslocavam do foco no caminho. Tudo parecia se acomodar ao caráter da visita inesperada de Ângelo, uma aparição sem questionamentos em meio a um universo em equilíbrio e dessa forma, tudo conjurava por uma permanência instigante, ensejando-lhe um “seja bem-vindo, forasteiro”...
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