03 junho 2009

Um muro na Palestina


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A partir de um cuidadoso trabalho de jornalismo investigativo (coisa rara por aqui), René Backmann, do Nouvel Observateur, desenvolve o tema principal de seu livro (Un mur en Palestine), a edificação de um muro de concreto (também denominado barreira), que isola assentamentos judaicos em terra palestina, chegando em certas partes a alcançar 9 metros de altura, com câmeras e outros dispositivos de segurança. Para os palestinos, trata-se de um muro de anexação, já que parcelas de seu território são incorporados na construção da barreira, sem data para devolução. A construção desse muro, ou barreira, prevê unicamente a segurança das colônias judaicas na Cisjordânia, estabelecendo um sentimento de segregação que em nada ajuda o processo de paz.

Abaixo, destaco e traduzo o depoimento de Netzah Mashiah, engenheiro encarregado de supervisionar o trabalho dos cartógrafos (os grifos são meus):


"Os políticos (...) não se cansam de discutir sobre o traçado da barreira. Por essa razão o primeiro ministro (Ariel Sharon) e o ministro da Defesa decidiram confiar o assunto ao exército e atribuindo-lhe um único objetivo: impedir a passagem dos terroristas palestinos e sua entrada em Israel. O problema não era saber onde passaria a barreira, sobre quais terras, mas a quem ela iria servir. E qual traçado seria o melhor para alcançar seu objetivo. Estas são as instruções que os responsáveis do projeto - todos militares - receberam no momento de começarem o trabalho. A barreira que você pode ver hoje construída foi elaborada pelo exército, aprovada pelo diretor geral do ministério da Defesa, o chefe do Estado Maior do exército, o ministro da Defesa e o governo. A fase seguinte consistiu em legalizar o procedimento das requisições de terras, por razões de segurança. Requisitar, isso não significa que nós nos tornamos proprietários das terras. Nós não as utilizamos além do tempo necessário para a missão atribuída à barreira: fazer desaparecer o terrorismo. Nós partimos do princípio de que essa barreira é provisória. E que sua existência depende da maneira que os palestinos se encaminharão para a paz. Ela pode portanto durar cinco minutos ou cinco décadas" (...)

Como podemos observar, as decisões são impositivas e supostamente revogáveis. Em nenhum momento houve predisposição por parte do governo israelense em discutir a situação com as autoridades palestinas. Além do que, é de se duvidar que as terras requisitadas sejam um dia devolvidas: nenhum atentado terrorista ocorreu nos últimos anos em território israelense, o que significa dizer, as condições para a devolução das terras requisitadas já estão dadas.

O livro é esclarecedor sobre temas como o processo de construção da barreira em si, a colonização judaica na Cisjordânia, a cartografia resultante após sua implantação (com quatro mapas em grande escala), as marchas e contramarchas da política de ocupação, o desenho de uma nova fronteira... Para nos informarmos sobre este descalabro silencioso de nosso tempo, penso que valha a pena ser lido.


Un mur en Palestine, por René Backmann, Paris, Folio Actuel, 330pg., 2006.



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