Após despertar de seu sono repousante, J.P. Foster dirige-se ao banheiro para a higiene pessoal e uma boa ducha. Em seguida, veste-se com a ajuda de seu valet de chambre e após um último toque no nó da gravata, encaminha-se até a mesa na sala de jantar, onde aprecia o humor do dia pelas amplas vidraças, bem como a magnificente paisagem da zona sul. Entre um e outro contato em seu celular, normalmente com investidores, empresários e integrantes de seu staff, toma o desjejum natural à base de vitaminas e frutas exóticas. Um dos empregados lhe proporciona o acesso aos jornais pelo seu notebook, onde se deleita com as fofocas sociais pelo mundo. Nada de esportes, quando seu cavalo não compete ou perde o páreo no domingo. Outros dois empregados se revezam colocando e retirando os pratos de fina porcelana, servindo os sucos nas esplêndidas taças de cristal da Boêmia.
Ao fim e ao cabo de seu desjejum solitário (quando a mulher descansa no apartamento da Promenade des Anglais, em Nice), levanta-se e dirige-se para a cobertura, onde um helicóptero o aguarda. O transporte lhe poupa os dissabores do engarrafamento e em seis minutos, ele e seus seis seguranças desembarcam no prédio da sede do conglomerado, no centro da cidade. Esta passagem do áulico e seus sequazes ocorre por volta das nove horas e ao entrar no elevador, J.P. Foster já está escoltado pelo seu Número Três, que lhe entrega o resumo dos números das bolsas e dos negócios na Ásia, fechados minutos antes. Caminha determinado, irradiando energia, os passos decididos ressoando pelos corredores, enquanto dispara telefonemas despejando diretivas para seus diretores e parceiros pelo mundo, até alcançar a entrada de seu escritório, onde o aguarda sua jovem secretária, sempre sorridente. As portas se fecham e a partir daí são trinta ou quarenta minutos incógnitos.
Ao serem abertas novamente, J.P. Foster desponta com uma expressão morna, não se sabe se pela expectativa dos encontros agendados pela manhã, ou se pelos extenuantes minutos passados com sua prestimosa assistente. Ao longo da jornada não mais abandona a sala da presidência, onde se reúne com seus assessores e gerentes de áreas específicas. Também é ali que recebe personalidades dos negócios, prefeitos, governadores e até mesmo presidentes de nações, sem abandonar a conexão via satélite com o mundo, atento a qualquer nova oportunidade. Reitera com o Número Dois a necessidade de ousar nos investimentos, expondo maneiras de abordagem incisivas. Fui um dos assessores do Número Dois durante quinze meses - disse Stuart B., hoje importante executivo em Chicago - e participava das conversas de cúpula... J.P. Foster gostava de se referir às divisões panzer alemãs, movimentações táticas, penetrações em cunha, surpresa no ataque... esses termos militares que funcionam bem como retórica no mundo dos negócios...
Ao final de cada dia de gerenciamento de seu conglomerado, J.P. Foster retira-se para a cobertura acompanhado de seus seguranças, onde toma o helicóptero de volta para seu triplex. Nesse momento, sua expressão pastosa se torna indiferente, quase bovina... como se seu mecanismo interno se desligasse... comentou José Teobaldo da Silva, um de seus importantes colaboradores, demitido após dezesseis anos de intensa convivência profissional. A volta para casa sempre foi um acaso melancólico... confessou um outro ex-colaborador, Frederick Hansen., hoje um magnata e proprietário de cavalos no mesmo haras onde repousam os puros-sangues de J.P. Foster. Para ele o tempo dos negócios não teria interrupções determinadas por convenções sociais... seu pensamento era que cada um deveria ir até onde bem desejasse, sem madrugadas ou fins-de-semana para repouso, concluiu Hansen sua resposta, ao ser indagado sobre o que entendia por 'acaso melancólico'.
Uma coisa é certa, não se verá J.P. Foster aparecer na grande mídia justificando ou promovendo sua ‘Weltanschauung’. Todavia, a ampla rede de proteção e marketing nem sempre se mostra inviolável. O influente articulista Alberto Gusmão, em uma de suas crônicas recentes, destacou a personalidade ‘constrangedora deste magnata irresistível’, salientando no final que, (...) para J.P. Foster, a cidade, seus habitantes, a vida mundana e os rituais cotidianos não passam de uma abstração longínqua, desnecessária e por isso mesmo desprezível.
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