07 março 2009

O método do fracasso




Tomei o livro nas mãos, ao acaso, em meio a uma infinidade de opções similares e passei a averiguar a proposta do título, "Os cinco passos framboesa", redigido assim mesmo, em uma capa escura com a frutinha no meio. Gosto de, vez ou outra, me entreter com achados bizarros na área de marketing, pois sugerem como ser bem-sucedido no mercado, sem produzir qualquer resultado. São as pílulas inócuas do sistema, que ao menos divertem pelo desvario. 

Na última semana, antes desse Os cinco passos framboesa, tirei da prateleira e folheei um livro em que o consultor de ocasião - um desses estadunidenses que apodrecem ganhando dinheiro com palestras motivacionais - refazia a história de Esopo, aquela da corrida entre a tartaruga e a lebre. Relacionava a fábula com a importância da velocidade em nossos tempos, e dizia algo do tipo 'a tartaruga venceu porque a lebre não quis vencer...", tentando convencer sobre a importância de sermos cada vez mais velozes...

Descartei o livro quando li algo como "a velocidade é a grande solução para se aumentar a produtividade e obter melhores resultados...", mostrando que o século XXI é o século do jato e não do balão, que para sobreviver na era da velocidade seria imprescindível ser ágil, aerodinâmico e alinhado... Na verdade, eu tinha me cansado com o ritmo alucinante da leitura. Bem, e agora descobri esse achado sobre a framboesa, pobre framboesa. 

Em suma, são esses os cinco pontos: a) ela possui um sabor característico, é azedinha no início, suave e adocicado depois; b) por mais que seja confundida com a amora, ela é uma framboesa; c) embora delicada, de manejo complicado, fornece ótima rentabilidade; d) uma vez madura, ela fica vermelha, e por fim; e) ela fornece não só saborosas tortas, mas também deliciosas combinações de bebidas.

Até onde consegui ler, mais parecia um mestre-cuca falando de sua especialidade na cozinha, do que um profissional de negócios tentando me convencer das vantagens de ser um empregado-framboesa. Mas depois, ele de alguma forma tentou adaptar as cinco características como essenciais para o sucesso no mercado. Não avancei nessa parte, pois como no livro do coelho e da tartaruga, ele conseguiu o oposto de seu objetivo, desmotivando-me com a leitura. Fui até a orelha final do livro, lá estava a foto do sujeito, uma pera de gravata. 

De todo modo, fiz um esforço para imaginar o desdobramento dos cinco passos do ser framboesa e concluí que, em a) pode ser a importância da personalidade mutante, sempre suave e adocicada quando a circunstância exigir; em b) a importância de se mostrar diferente, ainda que em um ambiente de marmotas; em c) a importância de ser um idiota a serviço do patrão; em d) não faço a menor ideia; e finalmente, em e) a importância de se deixar ser esmagado e ter a consciência de que está servindo para alguma coisa.

Pensando em livros mirabolantes como esses, que atulham as prateleiras das principais livrarias, é que compreendo um pouco a razão do capitalismo liberal se liquefazer de modo ágil, aerodinâmico e alinhado... Quando métodos vendidos como redentores por um sistema produtivo não passam de mero embuste, é sinal de que o próprio sistema produtivo tornou-se um embuste.


2 comentários:

Anônimo disse...

Vc às voltas com a framboesa, e aqui "eles" querendo implantar o 5S. (Tenho uma definição bem peculiar pra cada S).Valha-me Deus. Lendo os tópicos da framboesa, os mesmos podem ser aplicados numa caçada amorosa. As revistas de banca estão recheadas destas receitas. Acredito que pense um pouquinho como vc, de pressa chega a corrida para pegar o trem da vida. Eu quero sossego, e por que não também um pouco de sucesso.
Beijos.

Marco Antônio Bin disse...

Essa literatura serve pra qualquer coisa, menos motivar alguém a produzir mais e com satisfação...
beijos