Tomei o
livro nas mãos, ao acaso, em meio a uma infinidade de opções similares e passei
a averiguar a proposta do título, "Os
cinco passos framboesa",
redigido assim mesmo, em uma capa escura com a frutinha no meio. Gosto de, vez
ou outra, me entreter com achados bizarros na área de marketing, pois sugerem
como ser bem-sucedido no mercado, sem produzir qualquer resultado. São as
pílulas inócuas do sistema, que ao menos divertem pelo desvario.
Na última
semana, antes desse Os
cinco passos framboesa, tirei da prateleira e folheei um livro em
que o consultor de ocasião - um desses estadunidenses que apodrecem ganhando
dinheiro com palestras motivacionais - refazia a história de Esopo, aquela da
corrida entre a tartaruga e a lebre. Relacionava a fábula com a importância da
velocidade em nossos tempos, e dizia algo do tipo 'a tartaruga venceu porque a lebre não quis vencer...",
tentando convencer sobre a importância de sermos cada vez mais velozes...
Descartei
o livro quando li algo como "a
velocidade é a grande solução para se aumentar a produtividade e obter melhores
resultados...", mostrando que o século XXI é o século do jato
e não do balão, que para sobreviver na era da velocidade seria imprescindível
ser ágil, aerodinâmico
e alinhado... Na verdade, eu tinha me cansado com o ritmo
alucinante da leitura. Bem, e agora descobri esse achado sobre a framboesa,
pobre framboesa.
Em suma, são esses os cinco pontos: a) ela possui um sabor
característico, é azedinha no início, suave e adocicado depois; b) por mais que
seja confundida com a amora, ela é uma framboesa; c) embora delicada, de manejo
complicado, fornece ótima rentabilidade; d) uma vez madura, ela fica vermelha,
e por fim; e) ela fornece não só saborosas tortas, mas também deliciosas
combinações de bebidas.
Até
onde consegui ler, mais parecia um mestre-cuca falando de sua especialidade na
cozinha, do que um profissional de negócios tentando me convencer das vantagens
de ser um empregado-framboesa. Mas depois, ele de alguma forma tentou adaptar
as cinco características como essenciais para o sucesso no mercado. Não avancei
nessa parte, pois como no livro do coelho e da tartaruga, ele conseguiu o oposto
de seu objetivo, desmotivando-me com a leitura. Fui até a orelha final do
livro, lá estava a foto do sujeito, uma pera de gravata.
De todo modo, fiz um
esforço para imaginar o desdobramento dos cinco passos do ser framboesa e
concluí que, em a) pode ser a importância da personalidade mutante, sempre
suave e adocicada quando a circunstância exigir; em b) a importância de se
mostrar diferente, ainda que em um ambiente de marmotas; em c) a importância de
ser um idiota a serviço do patrão; em d) não faço a menor ideia; e finalmente,
em e) a importância de se deixar ser esmagado e ter a consciência de que está
servindo para alguma coisa.
Pensando
em livros mirabolantes como esses, que atulham as prateleiras das principais
livrarias, é que compreendo um pouco a razão do capitalismo liberal se
liquefazer de modo ágil,
aerodinâmico e alinhado... Quando métodos vendidos como redentores
por um sistema produtivo não passam de mero embuste, é sinal de que o próprio
sistema produtivo tornou-se um embuste.
2 comentários:
Vc às voltas com a framboesa, e aqui "eles" querendo implantar o 5S. (Tenho uma definição bem peculiar pra cada S).Valha-me Deus. Lendo os tópicos da framboesa, os mesmos podem ser aplicados numa caçada amorosa. As revistas de banca estão recheadas destas receitas. Acredito que pense um pouquinho como vc, de pressa chega a corrida para pegar o trem da vida. Eu quero sossego, e por que não também um pouco de sucesso.
Beijos.
Essa literatura serve pra qualquer coisa, menos motivar alguém a produzir mais e com satisfação...
beijos
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