21 março 2009

A condição humana



O longo corredor. Tive diante de mim o espaço longilíneo, ascético, insondável. Meus primeiros passos em sua direção soaram como instantes de uma longa condenação, a entrada em uma masmorra moderna, exilada do mundo. O longo corredor à minha espreita, escancarado, impondo-se como desafio. Nada tinha além dos meus passos e uma súbita impressão de que não regressaria por aquele caminho. Atenderia a um chamado, alguém que me solicitava, lá, na outra extremidade do corredor. O que fiz foi levantar-me do meu posto, olhar para a sala agitada naquele horário da tarde e dirigir-me à porta, passando pelo companheiro que me anunciara a presença inesperada. Deixei os demais com a dolorosa sensação na alma. E ter de enfrentar aquele corredor, que nunca me parecera tão abstruso, ecoando meus passos como se resistisse a eles, como se os tornasse ínfimos, distendendo o tempo e me apartando do destino. Um corredor que nunca se mostrara tão impiedoso, como se conjurasse com meus próprios rumores para protelar uma saída. Rumores que agigantavam a cada passo com seu ruído incômodo, acalentando fantasmas improváveis, o inequívoco desejo de não chegar, de aceitar a protelação. Senti-me amortecido por uma descompressão em que formas e conteúdos traduziam o sentido do nada. Um espaço que resultara da inflexão das minhas escolhas, tornando-me senhor de minha própria vertigem, sem direito a escapatória.

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