Nenhum
plano pretende explicar ou esgotar o assunto: no estádio, vemos parte das
arquibancadas com nossos personagens no centro da tela. O contracampo nos
mostra a parte mais próxima do gramado, a linha lateral tomada em plongé. No
balneário de Piriápolis ou em Montevidéu, temos apenas os enquadramentos
necessários para acompanhar nossos soturnos personagens. No cassino, basta-nos
observar os personagens principais jogando na máquina caça-níqueis ou
depositando fichas na mesa da roleta.
Tudo
assim, economia de gestos, de olhares, de palavras, muito bem construído em um
roteiro preciso, que relata uma história vazia e ao mesmo tempo dialoga com uma
proposta dialética de múltiplos sentidos, ocultos à primeira vista. O olhar do
espectador acompanha o desenrolar catatônico da história, mergulhando em seu
non sense e questionando-se em que situação se dará o desfecho. Nada especial:
a personagem feminina, Marta, em um táxi, segurando sem saber um pacote com
muita grana que acabou de receber, o olhar perdido para além do veículo, para
qualquer ponto na paisagem urbana adormecida.
A narrativa ocorre sempre neste ritmo taciturno. Três personagens convivem por alguns dias e nada fazem além de trocar algumas frases vazias, sem proporcionar qualquer expectativa frutífera nas relações. Depreendemos ao redor desses personagens sonambúlicos uma Montevidéu suspensa no tempo, indiferente ao avanço da modernidade, satisfeita em sua placidez, que indica um atraso tecnológico do qual não se envergonha.
Tomando-se
por base a cinematografia argentina recente – que busca também mostrar o
marasmo social a partir da crise econômica – a realidade presente neste filme
de Juan Pablo Rebella ultrapassa qualquer crítica ou qualquer presságio: é como
se referendasse um pesar atávico, que não vislumbra transformação e muito menos
almeja alguma solução. Basta a consciência de vermos transcorrer os fatos e os
atos em sua continuidade espasmódica, sem dor, amor ou esperança.
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