Chegamos
ao limite do que poderíamos compreender por jogo democrático, onde a ciência
política se confunde com campanha maciça de empresários em atuação
ilegal nas redes sociais, principalmente no WhatsApp, ao
disseminar postagens falsas contra um candidato. Nenhuma oportunidade ao
contraditório, apenas um ataque intenso de falácias produzidas com o objetivo
de destruir a imagem e a obra de um candidato. Como se opor a isso? Do ponto de
vista do campo social, pouco a fazer. Nossa organização combativa que se
manifesta nas ruas, em toda o seu ânimo e boa vontade, demarca uma prática de
embate de ideias, legal em seu conceito e aplicação, lamentavelmente superada
por robôs que proliferam à exaustão as mais bárbaras fake news, por
infovias desimpedidas, a colher parcelas substanciosas e desinformadas da
população.
O
que poderia ser a garantia lídima do processo eleitoral, instâncias de poder
como o TSE, PGR ou em última instância, o STF, mostram-se silenciosas,
imobilizadas, como que hipnotizadas diante de tais ações tecnológicas, que
configuram doações ilegais de campanha. A denúncia chega por um grande veículo
da mídia impressa, com todas as letras, mas ao que tudo indica não haverá reação
à altura dos poderes da república, de modo objetivo, do legislativo e do
judiciário, como também não deverá ocorrer desdobramentos nas demais mídias
corporativas. Parece que chegamos ao derradeiro cul-de-sac do
jogo democrático em nosso país, destroçado pela irresponsabilidade e pela
cumplicidade. O ódio, em sua versão mais esdrúxula, atinge-nos a todos de maneira livre e democrática.
As forças populares, organizadas em seus movimentos e coletivos, se veem isoladas e ameaçadas pela multidão solitária de indivíduos, que já não atuam mais pelo discernimento, associando-se aos instintos mais primitivos de uma repulsa de linhagem protofascista. O tempo dos argumentos e da coerência discursiva parece ter chegado ao fim, e ao que se verifica, todo o processo iniciado de modo grotesco com o impedimento de uma presidenta inocente culmina na violência física e moral que ilustra um vale-tudo eleitoral. É cada vez mais forte a impressão, para este que vos escreve, de que a escolha é livre, desde que ganhe o candidato da extrema-direita.
São as perdas evidentes dentro de um sistema econômico, que encontra sua sobrevida não naquilo que se apresentava até há pouco como capitalismo sustentável, mas no capitalismo que estimula a exploração do mercado e a permissão do sucesso do indivíduo a qualquer preço. Para o Brasil, desponta no horizonte algo similar com as restrições democráticas de direito e com uma forte ordenação neoliberal similares ao que ocorreu no Chile de Pinochet. E lembrando Naomi Klein, tal associação só pode ocorrer de maneira completa em um regime de exceção, em que a livre organização das forças sociais é restringida ao máximo, para não dizer eliminada. É nesse quadro de expectativas obscuras que ressurge a mão nada invisível das forças armadas.
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