07 outubro 2018

Breve interlúdio

Músicos, por Carybé

São 16h30 deste domingo nublado e chuvisquento, não nos resta outra função que aguardar o fechamento das urnas e termos uma ideia de como estará o quadro inicial para a disputa do segundo turno. Pelos levantamentos de ontem, Datafolha, Ibope e Vox Populi, o candidato protofascista alcança 40% dos votos válidos, enquanto Haddad vem em segundo com 25% e Ciro com 15%.

Não se verificam distúrbios de grande monta, os grupelhos das tropas de assalto parecem dispersas, ou no aguardo de algum comando para agir, sabe-se lá. Alguns fatos isolados, ainda que graves, de votantes do capitão divulgarem o voto com uma arma ao lado da urna. Nas ruas, ao longo de minha caminhada de Santo Amaro até a Augusta, nenhuma anormalidade, o que comprova uma impressão minha de longa data que os eventos midiáticos superam em dramaticidade a vida real.

Não consigo imaginar como isso irá terminar e nesse momento não sinto nenhum presságio, ao contrário, tomo meu chá de gengibre enquanto aguardo mi querida M. para visitarmos amigos que estarão concentrados para acompanhar as apurações. Mesmo esse dia ranzinza não me parece um sinal negativo, ele simplesmente está assim porque as condições atmosféricas resultam um dia encoberto e úmido. Por aqui, não há razão para maiores preocupações.

Quero persistir na crença que, na hora H do dia D a população em sua maioria saberá resistir à tentação de uma aventura tresloucada, se não neste primeiro turno, seguramente no segundo. Desvelamos tristemente um povo completamente à deriva em termos de consciência política, fruto de nosso processo histórico secular que privilegiou as castas dominantes e jogou à margem o trabalhador, mas mesmo com essa desvantagem, sua intuição última haverá de romper com a farsa discursiva de um candidato que despreza a democracia. 


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