Músicos, por Carybé
São 16h30 deste domingo nublado e chuvisquento, não nos resta
outra função que aguardar o fechamento das urnas e termos uma ideia de como
estará o quadro inicial para a disputa do segundo turno. Pelos levantamentos de
ontem, Datafolha, Ibope e Vox Populi, o candidato protofascista alcança 40% dos
votos válidos, enquanto Haddad vem em segundo com 25% e Ciro com 15%.
Não se verificam distúrbios de grande monta, os grupelhos das
tropas de assalto parecem dispersas, ou no aguardo de algum comando para agir,
sabe-se lá. Alguns fatos isolados, ainda que graves, de votantes do capitão divulgarem
o voto com uma arma ao lado da urna. Nas ruas, ao longo de minha caminhada de Santo
Amaro até a Augusta, nenhuma anormalidade, o que comprova uma impressão minha
de longa data que os eventos midiáticos superam em dramaticidade a vida real.
Não consigo imaginar como isso irá terminar e nesse momento não
sinto nenhum presságio, ao contrário, tomo meu chá de gengibre enquanto aguardo
mi querida M. para visitarmos amigos que estarão concentrados para acompanhar
as apurações. Mesmo esse dia ranzinza não me parece um sinal negativo, ele
simplesmente está assim porque as condições atmosféricas resultam um dia
encoberto e úmido. Por aqui, não há razão para maiores preocupações.
Quero persistir na crença que, na hora H do dia D a população em
sua maioria saberá resistir à tentação de uma aventura tresloucada, se não
neste primeiro turno, seguramente no segundo. Desvelamos tristemente um povo
completamente à deriva em termos de consciência política, fruto de nosso
processo histórico secular que privilegiou as castas dominantes e jogou à
margem o trabalhador, mas mesmo com essa desvantagem, sua intuição última
haverá de romper com a farsa discursiva de um candidato que despreza a
democracia.
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