15 outubro 2018

A luta de nosso tempo

avenida Paulista, setembro de 2018

E foi que conseguimos, a duras penas, prorrogar por mais três semanas a esperança contra o terror. Por meros quatro pontos o candidato do obscurantismo não levou no primeiro turno, o que teria sido uma brutal catástrofe para o nosso país. O campo democrático tem uma renovada oportunidade de proporcionar o debate político e apontar o perigo do retrocesso. 

Será difícil, mas teremos a oportunidade de construir uma base de mobilização que nos permita, em caso de derrota, impedir essa direita escravocrata de arrasar com as conquistas sociais e trabalhistas tão duramente acumuladas, e em caso de vitória, prosseguir com os avanços e aprofundar as indispensáveis e sempre adiadas reformas . 

De modo geral, as esquerdas conseguiram sair ilesas diante do furacão direitista e mesmo agregar cadeiras no Congresso. O PT e o PCdoB praticamente mantiveram suas representações, com o primeiro seguindo como o partido de maior bancada e o PSB, PDT e Psol ampliaram o número de deputados, porém na soma, o conservadorismo consegue maioria para passar seus projetos. 

O que houve nesse campo foi uma significativa "renovação", a saída de golpistas famosos substituídos por discursos patéticos como o ator pornô Frota e o mascote da direita liberal, Kataguiri. No Paraná foi eleito para governador o filho de um apresentador popular e em Minas, assim como no Rio, podem ser eleitos os candidatos alinhados ao liberalismo conservador.

A impressionante organização digital a serviço do candidato obscurantista começou a produzir uma avalanche de notícias falsas logo depois da espetacular manifestação pública produzida pelas mulheres em todo o Brasil, via WhatsApp, que dificulta a identificação da origem das postagens e seu controle. Alie-se a isso a restrita divulgação dos atos nas mídias corporativas.

Assim, nos dias seguintes, o que parecia ter sido uma vitória avassaladora do campo popular, tornou-se o ponto de inflexão de um crescimento vertiginoso do fascismo. A última semana antes das eleições foram marcadas por muita angústia de muitos amigos, quando tive de me manifestar mais para tranquilizá-los do que propriamente para militar na campanha de Haddad. 

Com calma, na quarta e quinta-feira, pudemos constatar pelos números que a derrota não ocorreria em primeiro turno e retomamos a luta. Senti aquela estranha impressão sem definição corpórea que já me havia tomado em outros momentos, algo no ar de que muito ruim se consubstanciava. Creio que só mesmo a força silenciosa de uma profunda convicção, pautada nas articulações dos diversos grupos de resistência, conseguiu sustar esse mal-estar intangível.  

Essa rede espontânea de resistência, que prossegue vivificada no mais puro improviso, amparada no empenho emocionado de cada cidadão com o compromisso de preservar a democracia, parece ganhar força e pode ser o último caminho para contermos a besta apocalíptica que nos ameaça.    


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