06 outubro 2018

Chá nas Montanhas, 10 anos

Cena do filme Viramundo, de Geraldo Sarno (1965)

Ontem este nosso blog, Chá nas Montanhas, completou dez anos ininterruptos, o que é um motivo de muita satisfação pessoal. As dificuldades são imensas para se manter uma página pessoal e particularmente não imaginava que pudesse permanecer pública por tanto tempo. A proposta inicial girava em torno de temas que sempre me mobilizaram e me deram prazer, o cinema, a literatura, a política. 

Nos últimos dois anos, em razão dos terríveis desdobramentos da política nacional, as postagens ganharam o tom crítico mais apropriado às crônicas, a denunciar de modo incisivo a ruptura constitucional patrocinada por aquilo que Safatle chama de consórcio conservador: o agronegócio, as igrejas conservadoras, a mídia conservadora, o empresariado financeiro e as forças armadas. Esses cinco setores da vida nacional, com a condescendência do poder jurídico e legislativo, deram o golpe de 2016 e caminham para o controle direto do poder, sem intermediários.

O aniversário do blog se dá dois dias antes das eleições mais importantes desde a "redemocratização", e o torpor destes tempos obscuros refletem neste espaço a dor da impotência mais a busca persistente pela opção socialista, em um mundo que a cada dia aprofunda o individualismo nas tintas neoliberais. Por um tempo, mais no início, o blog questionou os caminhos da mídia corporativa, então sugestionada pelas práticas nada éticas de Rupert Murdoch. Há dez anos, causava certo estupor como se podia compor uma narrativa a partir de meias-verdades e produzi-la de modo sensacional como verídica. 

As eleições de 2010 e principalmente as de 2014 demonstraram que esse caminho fake se constituiria em uma prática usual no jornalismo corporativo, sem volta, subvertendo muitas vezes o sentido real da vida cotidiana, transformando-a em um inexplicável conjunto de justificativas ficcionais. Observamos agora o candidato da direita transpor todos os limites éticos em seus rompantes contra conquistas sociais consolidadas, ameaçando um grave retrocesso em uma sociedade que não logrou eliminar sua profunda desigualdade.  

As benesses da poesia e do livre pensar submetem-se, nestes tempos sombrios, ao dever de realocar as palavras para a luta de classes e denunciar de algum modo os ditames de um proto-fascismo que mostra sua vileza, sua ignorância, seu sadismo violento e gratuito. Aqui no Chá nas Montanhas, tem-se a compreensão de que é tempo de descer à planície para o enfrentamento, e sua voz não se calará enquanto não retomarmos o caminho das grandes alamedas da democracia. 

Para isso não faltará pena para a escritura, nem determinação para a luta.

     

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