Calle Florida |
Revista dominical .dom, oferecida como encarte do jornal oficialista Tiempo. Matéria de capa: El club de los lindos. Discorre sobre um sítio na internet chamado Beautiful People.com e congrega 600 mil belos de 190 países.
Não é obra de um cara, pelo menos no que diz respeito à gestão da coisa. Um tal de Robert Hintze o fundou e hoje são os próprios membros do clube que têm o poder de aceitar ou rechaçar novos integrantes. Ano passado foram rejeitados um milhão e oitocentos mil pretendentes!... Palavras do tal Hintze: "Todos, incluidos os feios, querem trazer filhos belos ao mundo e não poderíamos ser tão egoístas para não compartilhar nossos atrativos genes".
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Significa dizer que os genes dos mais lindos podem ser encontrados nos bancos de óvulos e espermas. E explica: "Não é um negócio. Ninguém comercializa seu esperma ou seus óvulos (...) Simplesmente o que fazemos é facilitar o contato entre usuários que estão dispostos a converter-se em doadores das redes de bancos de fertilidade em todo o planeta. Nós emprestamos a plataforma para que se conheçam doadores e futuros pais"... e conclui: (...) todos queremos estar perto de alguém que seja atrativo. Sempre se tem o sonho de pertencer a um entorno de gente linda. A atração que exerce a beleza é uma força poderosa neste mundo".
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E sabem como os participantes desse sítio classificam os pretendentes? Atribuindo-lhes notas. As fotos são enviadas ao endereço virtual e avaliadas por cada integrante do club. Por exemplo, Tincho Landin, argentino, recebeu 5,3; Adriana, com ares de Catherine Funlop, ganhou 5,36. E um tal Ricky Rich, que posou com camisa aberta e um ar de Brad Pitt, mereceu um 8,09...
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A matéria termina com uma citação do Petit Prince, de Saint Exupéry: "O essencial é invisível aos olhos".
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Por ser uma publicação oficialista, ou seja, com uma linha editorial distinta do padrão oligopólico de espetáculo, só posso interpretar a matéria como uma sutil ironia a esse pensamento dominante que, obcecado pelo arco-íris desde que haja um pote de ouro em seu final, é capaz de expressar toda e qualquer bobagem para alcançar a fama, inclusive - como é o caso - reverenciar a futilidade em nome da beleza.
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A prevalência da beleza estética já foi um dia utilizada como requisito para a seleção de uma super-raça. Na modernidade-líquida, a beleza estética se sobrepõe por um estímulo dirigido à produção da boçalidade notável, capaz por si só de gerar notícia, curiosidade e... por algum tempo, parâmetros para a proliferação de um punhado de fúteis vencedores...
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Na modernidade-líquida, a beleza estética se sobrepõe estimulando um conforto artificial que de alguma forma, e por algum tempo, recobre as mazelas reproduzidas nas esquinas da vida.
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