08 agosto 2010

Agonias de um passado (1)



Esta crise sepulta de uma vez a bobagem de que marchávamos celeremente para o 'primeiro mundo'. A situação da saúde pública é falimentar e a educação agoniza dolorosamente na UTI. Em vez de investimentos urgentes e necessários, são feitos cortes para honrarmos nossa dívida externa. Agora, com a momentânea desvalorização de 30% da moeda, surge no horizonte a ameaça da inflação. As hostes governamentais indicam 6 a 7% no ano, mas já ouvi de uma jornalista da área econômica que ela atingirá no mínimo 10%. Qualquer uma das previsões não deixam de ser sombrias num país cujo salário mínimo não chega a 100 dólares mensais e cujos índices de desemprego crescem sem parar. Aí está o resultado de se apostar irresponsavelmente numa abertura total da economia e de se estimular a entrada em massa de capital especulativo. Agora ele sai, como se fosse uma debandada descontrolada (...). Pois é preciso que se faça um balanço e que se diga claramente à população (o que não acontece) as ações insípidas do passado e as perspectivas no horizonte próximo (...).

A verdade é que vendemos nosso patrimônio a preço de banana, ficamos sem nada e ainda devemos os tubos. Como se não bastasse, estamos desde 1997 como a 'bola da vez', terminologia irônica que mais ou menos significa que somos os próximos a mergulhar no abismo de uma crise econômica insolúvel. Para quem estava indo tão bem, às portas do primeiro mundo, nada mais decepcionante. E Lula foi estigmatizado como o demo, o sinônimo do caos, idéia mais ou menos estimulada por uma mídia cada vez mais disforme em seus princípios éticos. Duro mesmo é você abrir os jornais, ou assistir aos noticiários de tevê e deparar com os índices cada vez mais auspiciosos da economia dos EUA, uma ilha de sossego e bem estar no mundo conturbado de hoje. O último tapa na cara que recebi foi acompanhar o Bill Clinton decidir um aumento nos investimentos em educação e na assistência previdenciária aos idosos. (...) além de sermos obrigados a presenciar em outro país as melhorias básicas que desejamos para o nosso, ainda fica a certeza de que estamos financiando essas melhorias... (...)

(...)
Subtítulo do Fortune Américas, publicado como encarte no Estadão em 2 de janeiro: 'Complô contra as economias emergentes?'. No final a matéria, por si só um ensaio jocoso sobre a desgraça mundial, admite que 'um plano muito maior de um grupo de operadores financeiros que queriam enriquecer da maneira mais rápida possível', pode, enfim, ter de fato ocorrido. Ou, cá entre nós, pode ainda estar em andamento".

(in Diários, segunda-feira, 18 de janeiro de 1999)



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