 |
foto de Todd Webb |
Sueñan las pulgas con comprarse un perro; y sueñan los nadies con salir de pobresLos nadies, Eduardo Galeano.
Desde ontem, os números apontam mais de 100.000 visitas acumuladas desde o início do blog, há mais de 16 anos. Não é um número exuberante, se considerarmos que a média foi em torno de 17 visitações diárias. Na verdade, não me impressiono pela quantidade, mas por alcançar uma marca redonda e significativa, 100.000. De onde procederão esses números, quem são essas visitações, faz sentido considerar os dados expressos friamente pelo Google, que relaciona a presença de países tão discrepantes como Singapura ou Lituânia? Seja como for, está aí a marca, e desse imenso conjunto de visitas, por certo existem leitores reais e sensíveis, que dedicam alguns instantes para a leitura dos textos.
Ontem tomou posse Donald Trump, pela segunda vez. Se a sua primeira passagem revelou-se um tempo doloroso e nada inspirador, deste vez ele já começa tomando medidas fortes, como a retirada dos EUA da OMS, mais investimentos na exploração de combustíveis fósseis - e podemos imaginar que irá ignorar a COP30 no final do ano, em Belém - além de trazer ao procênio do poder figuras radicais como Marco Rubio para o Departamento de Estado, Linda McMahon para a educação, Robert Kennedy para a saúde (um sujeito negacionista, anti-vacinas), além do pior de todos, Elon Musk, como autoridade para a eficiência do governo. Esse sujeito já se apresentou ontem fazendo claramente o gesto nazista ao final de seu discurso. Serão tempos difíceis. Ontem mesmo Cuba retornou à lista de patrocinadores estatais de terrorismo, menos de uma semana depois de Biden retirá-la da malfadada lista.
Penso no cessar-fogo em Gaza, no movimento das pessoas retornando não para suas casas, mas para os seus entulhos. Netanyahu fez um serviço colossal, tornando o território palestino inabitável, com mais de 90% das construções devastadas, sem alimentos, sem saúde, sem educação. Tudo destruído pela sanha sionista, que não está satisfeita com essa trégua. Uma paz delicada, que pode terminar a qualquer momento, com novos e violentos bombardeios. Uma paz que não garante desenvolvimento social, ou um mínimo de autonomia, que não deixará de ser tutelada pelos drones do exército de Israel. Uma paz tão frágil quanto a estrutura de uma bolha de sabão. Já começaram as trocas de reféns - sim, Israel também fez reféns palestinos nesses 15 meses de conflito, como Khalida Jarrar, membro do Conselho Legislativo Palestino. Com Trump, não há perspectivas favoráveis para uma paz duradoura.
Trump representa o que o capitalismo moderno, ou o que se denomina por alguns analistas, o neofeudalismo, tem de mais significativo a oferecer: arrogância, violência, descomprometimento com o mundo, na medida em que os interesses do Make America Great Again sejam questionados. Um bufão, que passará o rolo compressor nas minorias latinas e que tomará medidas draconianas, sem a menor consideração. E o pior, será seguido e amado por legiões de inconsequentes, de farsantes políticos, de racistas, de jornalistas submissos, que levarão seu poder aos rincões mais insalubres do mundo, preservando-os como tal.