23 julho 2025

O fim, e as questões singelas




Como é difícil olhar vez ou outra para esse congresso e deparar com tantos imbecis eleitos se manifestando a favor de Trump! Mais difícil é imaginar que muitos desses tantos imbecis serão reeleitos na próxima eleição, ainda que trabalhem para o fim das políticas sociais. Um dos filhos do ex-presidente segue fazendo campanha contra o Brasil, lá nos EUA. Trump, ansioso e pouco informado, tascou um tarifaço de 50% nos produtos brasileiros, que passa a valer a partir de 1. de agosto. Se a diplomacia brasileira não for bem-sucedida nas negociações em curso (há negociações?) Lula deverá aplicar a política de reciprocidade, e taxará em 50% os produtos estadunidenses. Mas o absurdo é ver o filhote babaca mais essa bancada bolsonarista dando toda a corda para Trump. Ela não tem escrúpulos, desfralda bandeiras com o nome do presidente estadunidense em pleno congresso! O neoliberalismo cacarejando sem qualquer noção de como proceder, em um mundo cada vez menos dependente da economia dos EUA e expandindo as relações multilaterais. Os Brics ganham musculatura e isso nos enche de esperança, é o que nos resta, é o que se contrapõe ao que Yanis Varoufakis chama de tecnofeudalismo, onde as plataformas digitais atuam como feudos nas nuvens. Em outras palavras, elas não produzem nada, exceto reunir produtores e consumidores, para que o dono desse feudo na nuvem possa extrair uma renda, que é como a renda da terra no feudalismo, mas agora é uma renda da nuvem baseada em capital. Aí estão os Musks, os Bezos, os Galperins, a fazer fortuna em nome da precarização do trabalho. Concentração de poder e riqueza, à expensa da imensa maioria desafortunada.

As falidas lideranças neoliberais fomentam a exploração do capital em novas vestes: sujeitam-se aos ditames desses novos superpoderosos, em nome da extinção do Estado. Não conseguirão, e não porque o socialismo prevalecerá, mas porque a tirania tecnológica será pesada demais para os anseios irrefreáveis desses autocratas, meros pistoleiros do entardecer, condenados desde sempre a prestar contas à justiça social. Essa justiça social pressupõe uma resistência que abarca os seres humanos determinados a lutar pelo bem-estar do outro. Como disse Antonio Cândido, o grande homem é aquele que descobre quais são as necessidades fundamentais do seu tempo e consagra a elas a sua vida. Os indivíduos livres e responsáveis estão alinhados a esta consigna.

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Estes dias têm sido de leituras fragmentadas e pouca escritura. Visitei mamãe no domingo, pudemos conversar ao longo da tarde sobre a viagem dela com minha irmã até Buganvília. Confesso que me despertaram o desejo de lá regressar, ainda que o cenário seja desolador. Com a morte de minha tia Romina, sobra apenas a tia Neli, em meio a uma cidade transformada. Segundo minha irmã, não há mais nada que lembre a velha Buganvília. Ou nós estamos velhos e a cidade se remoçou, modernizando-se. Não há mais casas de madeira, não há mais ruas sem asfalto ou de paralelepípedos. Muitos dos pontos de referência desapareceram, como a loja de meu avô, ou o clube da cidade. Meu bom tio Rosario, com a morte de sua esposa, ficou solitário na farmácia que sempre teve, na avenida Brasil. Meu romance é um derradeiro chamado àquela cidade que conheci, e minha descrição se remete a um tempo que não mais existe. Talvez agora valha a pena reler o livro e depois retornar a Buganvília.



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