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A lua da Bela Vista |
Mais para além, mais para além
da mera intenção em dizer que se está feliz porque, afinal de contas, é um
otimista. Assim, Rubem Montillo passou a refletir, enquanto comia sua fatia de pizza, no balcão da Santa Clara. Se a alegria se deve ao caráter quietista do otimismo, a isso em que
as coisas se resolvem por uma saudável iluminação do destino, não duvido que
logo essa bolha explodirá em lamurioso pessimismo. O otimista convicto não
alardeia uma apreensão colorida de mundo para o mundo. Soa piegas e depois,
bem, depois o otimismo não é uma graça, mas uma espécie de disposição natural
que mobiliza para a ação. Supõe a intervenção humana, consciente, racional,
destacando o essencial, a compreensão
do compromisso. O fato de estar
propenso a por si só revela o estado de espírito otimista por
excelência, sendo desnecessário encontrar razões para decliná-lo como uma força
mítica.
Desta forma, uma frase como hoje o dia está belo, sem umidade excessiva, sem ruídos, de uma luminosidade suave e morna, e de outra parte sinto uma disposição para escrever, para arrumar minhas coisas, de sorrir e clamar para as pessoas o quanto a vida é bela..., talvez não seja a banalidade desprezível de um pensamento da revista Caras, mas inevitavelmente o início de um torpor indigesto, propondo certo otimismo para terminar no vazio. Um torpor fútil, no caminho da prevalência do supérfluo. As derivas de Montillo esbarraram em uma frase que recordou de Benedetti, o pessimista é um otimista bem informado... Talvez bastasse para distrair-se em seu devaneio.
Mas prosseguiu, avaliou que na pós-modernidade não existe disposição para que as proposições elaboradas sobrevivam. Sem sustentar um olhar apreciativo e condescendente, subsiste à deriva esse ser-aí liquefeito, assustado, preconceituoso, esperando cada qual o seu Godot. Lembrou-se de uma frase de Bauman, não há sonho comunitário vigente, mas a sensação de segregação e exclusão... As amarras típicas de nosso tempo, que arremetem cada vez com mais força ao isolamento e à intolerância, sob a proteção dos muros salvadores. A relação cotidiana pode ser considerada como uma bênção, sempre com conforto e proteção entre os iguais. E Rubem Montillo pareceu chegar a uma conclusão momentânea, antes de pedir a segunda fatia: nesse ambiente asséptico desponta o otimismo pueril dos indolentes, que nada acrescenta a não ser desilusão e miséria.
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