04 fevereiro 2010

Chuva de perceptos

Dresden, inverno de 2010

camminiamo sul bordo della strada che un vento gelido spazza di continuo sollevando un turbinio di nevischio ghiacciato: il freddo è insopportabile (luigi scarpel)

por que não atacamos? maldita demora já era para termos recebido as ordens de atacar mesmo com esse tempo e atolados nesta imensidão sem fim de neve ah meus pés duros a ala direita da 44ª como estará? nesse inferno de neve nessa podridão maldita paralisia tanta pressão sobre nós por quanto tempo mais? não é o melhor momento para procurar o capitão melhor assim esse sossego inoperante para esses rapazes arrebentados que não sairão daqui pobre Heinz o que sabe da guerra? como estará sua mãe doente desabrigada será difícil fazê-lo entender que não a abandonou o partido assim determinou e o Dieter outro que não faz ideia do que é sofrer numa trincheira gelada dormem agora e provavelmente morrerão ao final disso tudo ah os pés meus pés esse gelo maldito não os sinto mais por causa desse frio uff esse frio horrendo russos malditos por quanto tempo mais ficaremos aqui longe de tudo mergulhados nesta paisagem infinita esse inverno sem fim o ar frio que enregela os pulmões nem deus deve se lembrar de nós ah ah deus fiz bem em nunca criar ilusões pois aqui está nada acontece sofremos e padeceremos nesse fim de mundo isso é o que é para o bem de todos temos de vencer para vencer temos de sair desse cerco merda o que faço aqui? ora exatamente isso cumpro as determinações para o nosso lebensraun ainda que isso nos custe tantas vidas tantos camaradas tantas cidades esse inverno podia ser menos cruel essa pressão toda esses obuses por nossas cabeças está bem já basta essa brancura mortal a fome que nos devora aos bocados tudo muito científico devastador a isso nos levou as ordens insanas não tenham escrúpulos matem o inimigo não merece nossa compaixão e aqui estamos imóveis condenados a ala direita meu deus onde estará o capitão? o que passa é que estamos sem saída metidos nesse mar de neve eis nosso destino morrer como porcos e as patrulhas por que não regressam? não se manifestam nada sobre as incursões contra as linhas inimigas como é possível que possamos sair disso se não há movimento? o capitão está escondendo alguma coisa guarnecer posição e esperar mas esperar o quê? qual esforço fazem do lado de fora desse caldeirão? não ouço nada nenhum rugir nenhum combate as reservas nem mesmo as roupas adequadas chegaram já não nos basta munição precisamos de alimento menos sopa de batatas mais kümmel esse silêncio tenebroso o que nos preparam esses malditos russos? não há nada mas eles não precisam se movimentar basta apenas que nos imobilizem neste frio com seus katiushas esse tempo desgraçado dezembro natal e nós atolados assim o que virá? tão bom quando os katiushas estão calados quem pode garantir que não começarão a disparar feito animais outra vez sempre e sempre merda a primavera tão distante a licença o passeio no Tiergarten com a pequena Angela quem sabe o general esteja preparando uma grande surpresa estratégica por isso a demora o sacrifício ah o frio ouff mas ainda assim seria tão bom ouvir sua voz as palavras suaves sempre tão bem colocadas nossos últimos encontros me ajudaram a manter a esperança oh tão bela mulher o capitão exagera em seu silêncio afinal sou o suboficial mereço saber o que se passa quais são nossas chances o que afinal tem sido feito? posso ajudar na saída para essa paralisação de alguma forma posso fazer alguma coisa para isso podemos montar uma equipe de inspeção das linhas inimigas eu Dieter o Heinz o Franz por que não? tudo parecia muito certo avançar a esquerda até o vilarejo de B... está bem isso parece que foi feito está bem mas e a miserável da 44ª por que esse silêncio? o que o capitão sabe das intenções russas? se ao menos tivesse um mapa gostaria de ver um mapa entendo de mapas bons tempos das aulas geografia o professor Meyer suas palestras sobre Ratzel e La Blache bah tempos passados como estará o professor Meyer? e o professor Martim? como conhecia filosofia professor Martim a questão do cuidado, Hölderlin vamos ver ah sim E abertamente votei o meu coração à terra grave e sofredora e muitas vezes na noite sagrada lhe prometi amá-la fielmente até a morte sem receio com o seu pesado fardo de fatalidade e... e não desprezar nenhum dos seus enigmas Assim me liguei a ela por meio de um vínculo mortal como eram preciosas suas palavras ouff Berlim não deve estar assim tão fria ia bem agora umas torradas para o chá talvez o problema lá sejam os Mosquitos ingleses sem hora para despejar sua carga mortífera o professor adorável sua divagação pelos caminhos Nietzsche onde estará professor Martim? suas ideias sua forma de refletir sua sabedoria não não acredito que teria cometido deslizes tão mesquinhos como dizem gostaria de vê-lo mais falando de Nietzsche dos caminhos do mit-sein agora sentado ali adiante sobre o monturo de neve próximo de Franz que escureça que atirem sobre nós saberíamos ver o homem em sua plenitude isso nos ajudaria a suportar a sobreviver o que deverá pensar o capitão sobre a filosofia? maldito capitão que nos oculta o essencial somos na verdade um bando de pobres soldados condenados enterrados vivos no rincão dos untermenschen ah quanta ironia como podem ser inferiores se vencem se não passam frio e têm o que comer? se não vencem ao menos não são derrotados ou o que é pior nos prendem nessa ratoeira quanta privação ninguém quer pensar o pior mas não somos tolos podemos imaginar o que nos espera por mais que o comando tente nos esconder as coisas pode-se falar muitas coisas mas quem fala besteiras sobre ah Heinz movimenta sua perna! ótimo que seja um bom presságio para todos nós Steinitz não me procurou mais talvez tenha superado as dores na coluna resta solucionar o problema dos sapadores da 8ª brigada Bautz está mal Schörner com a barriga daquele jeito Viazma não pode estar a mais de cinco quilômetros o que significa bah se essa merda de tempo não piorasse à noite o vento frio que zumbe no ouvido malditos katiushas (ruído infindável de explosões) isso acabará com os ouvidos... ainda o vento cortante e assim nunca é possível relaxar os nervos o pessoal não para de gemer sofrem mais por essa inanição bem sei o contra-ataque precisa ser lançado capitão não espere mais que se foda morramos todos mas pelo menos seria uma tentativa vou perguntar ao Heinz o que se passa ele esteve no comando sabe se atacaremos ou se vamos permanecer acuados como porcos nós que chegamos até aqui maldito frio maldito russo maldita guerra nem uma carta em vinte dias minha querida Mirna o que estará fazendo agora amada ouff é preciso esfregar esfregar não pare de pensar disse o capitão Merkle (novas explosões) vou falar-lhe para andar um pouco e pensar em um passeio em Constança com Judi um café num belo restaurante à beira do lago os barcos navegando na placidez como se não houvesse mais guerra a lua prateada nenhuma pressa nenhuma dor os filhos uma bela casa as férias os banhos quentes em Baden-Baden oh como faz falta não ter a correspondência em dia quando voltaremos a receber nossas cartas novamente? Mirna precisa dizer-me algo estava muito abatida na última carta os Mosquitos sem dúvida o maior problema dia e noite não param de atacar ao menos em Nurembergue incendiaram tudo mas lá ainda há onde se refugiar sem que se sofra com o frio pelo menos penso (gritos à distância) não param bah e aqui no front nesse frio morteiros artilharia pesada e as transmissões que não se encerram desse ministro charlatão que não nos ajuda sempre e sempre elevando nossa categoria racial e veja só como estamos o que será que teremos hoje? sopa rala meus bons tempos de universidade aquela boa comida que sempre reclamei de mamãe comida farta sorrisos paz sossego caminhar-se pelas ruas de mãos dadas sem temer cercos russos aviões katiushas teremos que vencer os russos vencer os russos que mentira como alguém pôde acreditar nisso? Goebbels acredita nisso como avançaremos assim arrebentados? o que o capitão pensa sobre isso? um mapa uma palavra sobre nossa posição esse vento vem vem vem o branco sem fim o escuro das madeiras esse buraco frio a neve branca logo só a escuridão da noite tenebrosa sem poder dormir só pensar para não sucumbir estaremos atentos junto com o sexagésimo segundo pelotão ou o que sobrou dele ainda bem que cessou o bombardeio talvez os russos também tenham problemas ah o movimento da 44ª por que não vem? por que não há novidades? (baterias de katiushas ao longe) uhh que vento friiiiio ahh não vamos aguentar então eles bem que podiam atacar e acabar de uma vez com isso conhecem o terreno e nos meteram nesse bolsão estúpido por quanto tempo mais? por quanto tempo mais? os homens não suportam estão psicologicamente já deliram perderam a noção do tempo daqui a pouco não terão forças para levantar e lutar eu só resisto porque porque ah quero muito rever Mirna mas os homens não estão nada bem não não estão não sabem mais que ah claro um ataque por que não? ou uma retirada retirar para o oeste para casa nos esconder nos porões até tudo acabar ah meu deus ouff essas rajadas cortantes morreremos todos capitão! esses homens não podem ficar paralisados numa situação dessas por que não nos batemos para chegar em casa? ah esse maldito frio ooouff ...


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