14 agosto 2009

Interlúdio


No inicio de Alone Together, há uma introdução do piano de Horace Silver, breves notas que introduzem o tenor Hank Mobley, cujo saxofone ganha corpo na evolução da melodia, sob o sensível acompanhamento do baixo acústico (Dough Watkins) e da bateria de Art Blakey. À parte o belíssimo desenvolvimento do tema, gostaria de me ater aos sons de fora, que não constituem a peça musical, mas que incorporam-se a ela, dando profundidade ao clima descontraído entre músicos e público, ao aconchego da intimidade compartilhada. A gravação ocorre no dia 23 de novembro do longínquo 1955, no Café Bohemia, Nova York. 

O murmúrio circunda pelas mesas, pessoas conversam naturalmente, cujas vozes são discerníveis a cada breve momento de inflexão das notas do saxofone. Um rumor de vozes com mais de cinquenta anos, que revela que aquele encontro ocorre em um café aconchegante. Conversas que abrem espaço para a música, e que emergem sussurradas em razão da música. Ao fundo, um tilintar de copos que se tocam ao acaso, proveniente da descontração, dos coquetéis em meio às palavras furtivas...

Impressiona-me tanto a qualidade do som desse ótimo álbum, quanto o registro dos ruídos incidentais, cuja sobrevivência reverbera um momento especial. O saxofone prossegue nota após nota, proeminente, enlevando os espíritos, fazendo da presença das pessoas um motivo para a celebração elaborada ao sabor do jazz, possível de ser imaginada em sorrisos e em gestos afetuosos. Ao cabo de quatro minutos e quinze segundos, o solo de Mobley voluteia em notas improvisadas, magnífico, e os semblantes, certamente impregnados pelo inesperado encerramento, reverberam a onda emocionada dos aplausos...
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