04 agosto 2009

Critério de interesse



Acompanhei um programa sobre três mulheres egípcias 'malucas', que resolveram denunciar as fraudes ocorridas nas eleições para o parlamento do Egito, em 2005. Uma delas, jornalista de uma rede de TV, foi votar pela manhã e encontrou sua seção praticamente vazia. De um modo geral, a participação popular tinha sido muito baixa, cerca de 30% do eleitorado. No noticiário da noite, leu a notícia de que havia ocorrido uma participação massiva da população nas eleições...

No dia seguinte, perguntou-se que papel estava desempenhando como jornalista, se em vez de divulgar suas impressões, tinha de ler o que lhe obrigavam. Por alguma razão que não entendi, as eleições no Egito ocorrem em três etapas, três dias diferentes. A jornalista então resolveu romper com a farsa e, junto com outras duas 'malucas', foi denunciar o que ocorria, ainda a tempo de tentar salvar alguma coisa. No final das contas, como resultado da atuação dessas mulheres, apenas dois juízes prometeram investigar a fundo a corrupção eleitoral. Passaram a ser perseguidos e até onde se pode ver, organizava-se uma mobilização de outros juízes, amparados por uma parte da população que superava o medo para se colocar nas ruas.


É curioso que esse fato, permeado por violenta repressão policial nas ruas, tenha passado incólume em nossos noticiários. As imagens são tão impressionantes como as que foram divulgadas (exaustivamente, diga-se) de Teerã, há pouco tempo. Por que a mídia não se reporta à ditadura Mubarak, que vige monolítica há 28 anos?


Temos que os fatos são selecionados segundo um critério de interesse, muito apropriado para cada ocasião. Posso lembrar outros acontecimentos parcamente cobertos pela mídia, como o massacre desatado na faixa de Gaza, onde mais de duzentas crianças palestinas foram assassinadas por bombardeios aéreos israelenses. Ou, como já foi discutido neste blog, nenhuma palavra sobre a expansão das colônias judaicas em território palestino. Nas informações alcançadas por nós através da mídia, Mubarak não é outro senão o interlocutor por excelência do impasse palestino-judaico.




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