15 julho 2009

Primeiras impressões



Acabei na parte central de Caracas, por opção. Uma nova capital a se conhecer, nada melhor do que ficar em seu núcleo mais popular e antigo. No primeiro momento, ressalta a feiúra, o abandono dos edifícios, o caos do tráfego, a pífia infra-estrutura hoteleira, ao menos para atender viajantes com recursos limitados, como eu. Busquei três hotéis indicados no Lonely Planet e fiquei impressionado com a má qualidade das instalações. O outro problema foi encontrá-los, já que as ruas, praças e avenidas raramente dispõem de placas indicativas com seus nomes. Nesta parte da cidade, as ruas são designadas por pontos cardeais, norte, sul, leste, oeste... seguida de um número, por exemplo, Norte 2, Oeste 3... havendo sempre uma avenida como ponto de partida.

Optei pelo Gran Galaxie, sofisticado apenas no nome, porque estava cansado e porque anoitecia. Logo na entrada, como um anexo ao hotel, uma pequena e simpática panificadora; uma vez no hall, a circulação inusitada de clientes me revelaria uma animada boate, por trás de uma porta discreta, nos fundos. O Gran Galaxie é um ponto de encontro de alta rotatividade. As mulheres começavam a chegar e a se acomodar nas poltronas da pequena sala, ao lado do balcão de atendimento. Subi ao sexto andar, uma habitação simples, aparentemente agradável. Deixei minha bagagem e antes de sair, deparei com cucarachas de diversos tamanhos, um tanto assustadas com a repentina iluminação do ambiente. Considerei o fato como sendo de menor gravidade e saí pelas ruas.

A noite é mais feia e silenciosa nos lugares que nos causa estranhamento. Esta parte central da cidade me pareceu também erma, além de sem graça. Tudo à penumbra, espaço recortado por prédios de estilos desconexos, poucas pessoas circulando nas ruas. Costumo sempre nessas ocasiões buscar um recanto, um local que se torne uma referência ao longo da estada, um bar, um café, uma praça, e nem isso. Estava em um pedaço da cidade que - àquele horário do dia - se recusava a ser receptiva.

Por fim, encontrei a praça Bolívar, que se revelaria um delicioso local de convívio, mas que a esta altura estava escura e esvaziada. Duas mulheres faziam a limpeza e me aproximei. Sorriam generosas a cada pergunta. Na extremidade oeste da praça, um cantante tocava seu violão, interpretando músicas revolucionárias. Caminhava de um lado para outro, inclinado sobre o instrumento, concentrado nas músicas. Uma pequena assistência de velhos o acompanhava serenamente, aplaudindo-o ao fim de cada canção.

Atravessando a praça, uma outra indicação do Lonely Planet, o hotel C., que não me estimulou nem um pouco a mudar: seus quartos, embora mais assépticos, não dispunham de... janelas. Alfonso, o atendente, não se importou que eu não ficaria e batemos um papo. Perguntei sobre câmbio, ele prontamente me ofereceu a melhor oferta até então, prometi retornar no dia seguinte. Voltei para as ruas, nenhum lugar aberto para uma cerveja. Faltava pouco para as dez da noite, regressei lentamente ao Galaxie e as minhas cucarachas, para assistir um pouco de TV e esperar a claridade do dia seguinte.

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