... fica evidente o esforço da grande mídia em atrelar nossos destinos imediatos com as consequências da barafunda econômica criada por nossos irmãos do norte. Como se fizesse campanha para aderirmos à desventura dos apostadores globais, e às mazelas do Império... Em meio a uma profusão de explicações sobre os desdobramentos da tal crise, torna-se impositivo sofrermos com ela, como se papai tivesse torrado o salário na corrida de cavalos e tivéssemos que arcar com sua infelicidade. Simples assim.
O que parece importante aqui é compreendermos os limites desse discurso impiedoso, tenebroso, mal-cheiroso... Nossos colonistas (é aquela mistura de colunista com colonialista) se esfalfam por mostrar nossas perspectivas, do ponto de vista da tragédia da Metrópole. Não há escapatória. Nenhum número equilibrado da nossa economia pode ser visto como um alento, senão vejamos: ontem mesmo, diante dos bons índices de desemprego, houve o adendo sobre a queda na renda real do trabalhador... Ou seja, não pode existir boa notícia, sem o acompanhamento de uma má (pois afinal, estamos em crise!).
Perdeu mais uma oportunidade de refletir de modo isento e inovador, sem olhar para o Norte. Crise, para mim, é a chance de mudar parâmetros, renovar conceitos, eliminar equívocos, e não submissão aos ditames de uma ordem econômica, no caso, de uma ordem falimentar. Falta vontade e iniciativa por parte dessa mídia encalhada em seus padrões vetustos, de um olhar alentador, que expresse os genuínos desígnios de nossa gente! Sem se vender ao efeito manada tão ao seu gosto, no mais das vezes mera reprodução de idéias, que formata a maneira de pensar e agir...
Até um tempo atrás, para essa mídia, era imperioso caricaturar os governos de Chávez, Correa, Morales, enxovalhando o descaminho das crises (normalmente delicadas e complexas) e omitindo suas razões (normalmente históricas). Agora, essa solenidade pétrea, esse silêncio miserável ao neoliberalismo recém-fenecido!... Na verdade, o que desponta aferrado da forma mais evidente não é o nosso destino em relação ao infortúnio estadunidense, mas a miopia da grande mídia em relação à verdade dos fatos.
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