25 novembro 2008
David Harvey
22 novembro 2008
Paz em tempos de Bush
E por fim, eis que os dignitários das potências intermediárias, tanto do leste como do oeste, sentaram-se uns defronte ao outro para resolver a contenda. Em cada extremo da enorme mesa retangular, os dois representantes das nações belicosas, solitários, sem direito a nenhum assessor. Nas laterais da mesa, os ditos dignitários das potências intermediárias, que formalizavam a paz.
Após uma longa rodada de conversações, regada a whisky 18 anos e acepipes de camarão a la Gandhi, distribuiu-se a minuta do acordo, que se aceita seria logo transformada em tratado final. Uma televisão de plasma fora instalada estrategicamente no recinto, para que todos tivessem acesso aos olhares do Presidente da Grande Nação, que a qualquer instante poderia interferir na rodada de negociações.
Lida a minuta, todos pareceram relativamente satisfeitos. Neste momento, a televisão acendeu e quando se imaginava que surgisse a imagem do Presidente da Grande Nação, irromperam cenas de brutal violência da guerra que imaginavam concluída. Detonações, mísseis disparados, demolições, pânico, crianças mortas, uma sucessão inesperada de imagens que fizeram revolver o camarão a la Gandhi nos estômagos.
Após um tempo que nenhum dos presentes soube precisar, despontou a imagem da cabeça ovalada do Presidente da Grande Nação, envolta em um discreto sorriso de satisfação. Ao saber que as negociações chegavam a bom termo, anunciou seu contentamento com os esforços envidados para a obtenção da paz, mas sentia-se na obrigação de avisar os mandatários e representantes presentes que, por razões que fugiam ao seu controle, a guerra teria de continuar por mais um ano. Sabem como é, interesses de grande proporção, que me escapam ao controle... afirmou após um breve silêncio, antes de retomar o discreto sorriso e desejar boa noite a todos.
20 novembro 2008
Por algum estranho propósito...
... fica evidente o esforço da grande mídia em atrelar nossos destinos imediatos com as consequências da barafunda econômica criada por nossos irmãos do norte. Como se fizesse campanha para aderirmos à desventura dos apostadores globais, e às mazelas do Império... Em meio a uma profusão de explicações sobre os desdobramentos da tal crise, torna-se impositivo sofrermos com ela, como se papai tivesse torrado o salário na corrida de cavalos e tivéssemos que arcar com sua infelicidade. Simples assim.
O que parece importante aqui é compreendermos os limites desse discurso impiedoso, tenebroso, mal-cheiroso... Nossos colonistas (é aquela mistura de colunista com colonialista) se esfalfam por mostrar nossas perspectivas, do ponto de vista da tragédia da Metrópole. Não há escapatória. Nenhum número equilibrado da nossa economia pode ser visto como um alento, senão vejamos: ontem mesmo, diante dos bons índices de desemprego, houve o adendo sobre a queda na renda real do trabalhador... Ou seja, não pode existir boa notícia, sem o acompanhamento de uma má (pois afinal, estamos em crise!).
16 novembro 2008
Ortega y Gasset
"Porque a vida é inteiramente um caos onde a criatura está perdida. O homem suspeita, mas aterra-o encontrar-se cara a cara com essa terrível realidade, e procura ocultá-la com um véu fantasmagórico onde tudo está muito claro. Não lhe interessa que suas idéias não sejam verdadeiras, emprega-as como trincheiras para defender-se de sua vida, como espantalhos para afugentar a realidade.
Homem de mente lúcida é aquele que se liberta dessas idéias fantasmagóricas e olha de frente a vida, e se convence de que tudo nela é problemático, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é sentir-se perdido – quem o aceita já começou a encontrar-se, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está no firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo para se agarrar, e esse olhar trágico, peremptório, absolutamente veraz porque se trata de salvar-se, lhe facultará por ordem no caos de sua vida. Estas são as únicas idéias verdadeiras; as idéias dos náufragos.
O resto é retórica, postura, íntima farsa. Quem não se sente de verdade perdido perde-se inexoravelmente; é dizer, não se encontra jamais, não topa nunca com a própria realidade".
in A rebelião das massas
15 novembro 2008
Uma solução inconveniente
E assim, marido e mulher tomaram o coletivo para Santo Amaro e dali, uma lotação para o centro da cidade. Informaram-se como ir até a ponte das Bandeiras e uma vez lá, postaram-se à entrada da ponte, em frente ao clube Tietê, e esperaram. Ele leu ainda uma vez o telegrama recebido, olhou para as redondezas, sim, não havia dúvidas, o lugar era mesmo aquele. O suor abundante no rosto refletia sua ansiedade pela insólita espera, enquanto a mulher procurava tranquilizá-lo, ajeitando-lhe o caimento do terno e o nó da gravata. Passados poucos minutos sob o sol aberto de outono, eis que surgiu discretamente um cidadão portando um chapéu panamá, barba por fazer, com um maço de papéis sob o braço. Mais tarde, a mulher descreveria detalhes importantes desta figura sinistra, como o jaleco que ele vestia, parecendo ser "de um defunto maior", além da "fala mansa e da contenção nos gestos".
O cidadão vindo do nada se apresentou como Sub-Contador dos Materiais Permanentes da Municipalidade e foi logo entregando os papéis ao homem que, atarantado, ouviu um discurso furtivo sobre suas responsabilidades futuras pertinentes à administração da ponte. Algo como: Saiba, senhor José, que a cidade espera que seja cumprido o seu dever na preservação desta ponte..., ao que acrescentou, com a voz falsamente embargada, tentando criar um caráter solene para a situação, Gostaria de reiterar o constante no artigo seis, parágrafo d, do Programa de Cuidados Sobre Bens Públicos (ah sim, aqui está... dê uma olhada na página quatro do contrato), que, por qualquer descuido em suas funções de preservador da coisa pública, a punição prevista será sua detenção por tempo indeterminado...
Os carros passavam indiferentes pelo lugar, a tarde fazia-se mais abafada do que qualquer outra, a mulher teve alguma dificuldade em entender o que se passava, o marido olhou a sua ponte enquanto o Sub-Contador aprumou-se, espanando uma sujeira fictícia no ombro de seu interlocutor. Bem, senhor José, preciso de sua assinatura nestes recibos. Use minhas costas como apoio e seja rápido, determinou com a inalterável fala mansa, apenas preocupado com as surpresas laterais.
13 novembro 2008
Terror e miséria no Brasil midiático...
Novamente o pânico... oh, o medo e o temor das coisas, da queda da bolsa, a recessão da economia, a falta de crédito... Os arautos da mídia insistem em que a população se submeta aos ditames da ordem econômica em diluição. 'O comércio se prepara para um natal com menos vendas', ou algo parecido, eis o argumento miserável, como se natal fosse sinônimo de índice econômico! As notícias se repetem, que saco! como se não fosse possível a discussão de assuntos mais importantes, que dialogasse com a nossa inteligência... A mediocridade assalta o cotidiano dos brasileiros, isso já foi dito pelo professor Laurindo Leal Filho, ao mostrar o processo da edição das notícias que chegam aos nossos lares a partir do jornal nacional...
Assuste-se, mantenha-se em alerta permanente, as bolsas desabam, o mercado está deprimido!... Quando não é o Bonner, é o Wack... cuide-se, a crise se aproxima e nos alcançará, claro, vejam o que acontece nos EUA... pânico... ei, ei, o que você pensando... que ideia é essa? férias? cabeça fria?... pois prepare-se, o dólar sobe, os preços disparam (eis outro terni adorado pelas editorias)... Nada será como antes, os preços do petróleo despencam, o desemprego, pense nisso, significa que a crise se instalou em meio ao pânico... pâ-ni-co... qual o melhor investimento para proteger seu mirrado dinheirinho do turbilhão que se instala? Cdb, poupança, captação, dólar, o caralho a quatro...
Medo, temos de nos desgastar na neurose, na tensão permanente, porque sem estresse não há modernidade... Desconfie do vizinho, do seu cão que mija no lugar errado... esqueça os índios bororos, o próximo pôr do sol, as aventuras de Julio Verne, a última chacina na periferia ou a situação educacional do país... nada sobre o Haiti, ou sobre a paz no Oriente Médio... não, ali não há paz ainda, precavenha-se, é o terror, mais um atentado a bomba morte... desespero... as bolsas oscilaram, o crédito escasseou...
07 novembro 2008
Vuelvo al sur
Francisco Repilado
... de modo que seguiam sentados em torno da mesa de refeição, tomavam um bom vinho chileno e conversavam animadamente, enquanto Guilherme e Anastácia preparavam a corvina ao modo paulista. Ainda estavam nos entretantos sobre as situações vivenciadas em sala de aula, quando Jéssica sorriu antes de mais uma provocação, Quando foi a última vez que você se emocionou de verdade?, perguntou olhando a Fernando.
Por uma história de amor..., sorriu abertamente.
Não... me fale de um motivo banal, corriqueiro, desses que ninguém dá bola!...
Olhou para todos, incluindo Otávio e Marcela. Anastácia quis comentar uma situação passada havia dois dias... Só um pouquinho, espera só um pouquinho – cortou Jéssica – quero saber primeiro dos machos presentes!, interveio, satisfeita com a provocação. Os rapazes entreolharam-se, desacorçoados. Houve um momento de espera, algumas risadinhas indigestas, um comentário breve de Guilherme, tudo indicava que não haveria qualquer comentário.
Bom, posso contar uma situação singela, redargüiu Otávio, volteando no ar o copo de vinho em movimentos suaves, por fim sorvendo um bom gole da bebida. Não o levaram a sério, imaginaram que começaria um melodrama de efeito burlesco, como era bem do seu estilo. Mas fizeram silêncio, uma chance para que Otávio dissesse algo que não fosse tripudiado por Fernando, comentarista mordaz nas reuniões entre amigos. Otávio era visto pela turma como o sujeito das observações fora do lugar e quando elas construíam algum sentido, costumava escorregar no momento inoportuno, propiciando a galhofa atravessada. Tornara-se uma espécie de escada para os piadistas da turma, de modo que desta vez todos, especialmente Fernando, o mais ferino, aguardaram bem comportados a hora certa.
Então... como disse, creio que não faz muito sentido, mas... Aconteceu anteontem, estava ouvindo música cubana, um disco, escolhido ao acaso, queria terminar uma aula no power-point e o primeiro que alcancei foi o Compay... (deteve a narrativa por um instante, como a escolher as palavras certas) Passei a ouvir as músicas... o prazer de sentir a leveza daquela voz grave, áspera, o elogio da vida... até que uma canção... uma canção chamada... vejam só, essa música tocou-me de modo diferente... detive o meu trabalho e tomei o libreto do álbum nas mãos, de súbito quis saber mais, o que estivesse ali relatado, enquanto ouvia a música virava as páginas e deparava com imagens de Compay, sua presença sempre sorridente, junto aos amigos... na contracapa a foto decisiva, Francisco com seus vinte e poucos anos, ao lado da companheira Ana e embaixo, uma dedicatória que expressava amor: Para Ana, Yo te quiero, cariño... ... deslizei pela cena, amparando-me em seus detalhes, como se revivesse uma juventude que me parecia eterna... a voz encorpada cantando... Mi vida es um martírio sin cesar/mirando tu retrato me consuelo/ vuelvo a dormir y vuelvo a despertar...
Em um instante eu estava lá, o fotógrafo cúmplice, minha imaginação flertando como em um sonho, sob o clima da suave manhã, o aroma eflúvio de seu inseparável charuto... a contagiante satisfação de Francisco com sua querida Ana, eu a pedir-lhes uma pose... Sim, isso, agora, um sorriso!... a pressão no obturador da máquina, a imagem captada, o início da trajetória do mito... Sua pose... pedi que apenas apoiasse a mão delicadamente sobre o ombro de Ana... Os gestos resultando em um sóbrio equilíbrio para a cena... o jardim ao fundo... o silêncio... a expressão de felicidade captada... Diga algo, Francisco, solicitei e prontamente sua poderosa voz rompeu, um rugido impreciso, como se ajustasse o tom até ganhar a impostação correta... Francisco exprimiu-se, sorridente em meio a sua aura de bondade, que atravessou os tempos e, como um bumerangue, tornou a alcançar-me neste futuro de tão pouca memória... reencontro emocionante com o olhar generoso, sempre feliz ao lado de Ana...
A voz de Otávio subitamente se interrompeu, sob o inesperado silêncio dos amigos...
05 novembro 2008
Milton Santos
"O dramático é que o discurso se instalou nas coisas (...) Hoje, o que se diz é que tudo depende das finanças. Se estas forem mal, nada mais é possível. Nem falar, portanto, em bem-estar social, cidadania, solidariedade... Será que é mesmo assim? Será o dinheiro a única razão admissível?"
04 novembro 2008
Allende
02 novembro 2008
Sobre o otimismo
É preciso ir mais para além, mais para além da mera intenção em dizer que está feliz porque, afinal de contas, você é um otimista. Ou que descobriu seu caminho depois de ler Paulo Coelho ou O grande segredo. Se a alegria se deve ao caráter quietista desse otimismo, a isso em que as coisas se resolvem por uma saudável iluminação do destino, não duvido que logo essa bolha explodirá em dolorosa decepção. Para esse otimismo de faz de conta, prefiro o pessimismo de Benedetti, pois segundo ele, o pessimista é um otimista bem informado.
O otimista convicto não alardeia uma apreensão colorida de mundo para o mundo. Soa piegas e depois, bem, depois o otimismo não é uma graça, mas uma espécie de frescor consistente que mobiliza para a ação. Supõe a intervenção humana, consciente, destacando o essencial, a compreensão do compromisso. Sabemos que neste mundo pós-moderno não existe disposição para que as proposições elaboradas sobrevivam. Ou, em outras palavras, que elas surjam depois de você se vender às mais pusilânimes tentações disponíveis, ao alcance de seu cartão de crédito. O mercado é prodigioso em oferecer cura às desesperanças, aos vícios e principalmente às dívidas.
Como diz Bauman, nos aprofundamos nos esforços individualizados por alcançar um lugar privado e protegido, em um mundo parecido com um bazar lotado e barulhento. Aprendemos a cada dia uma nova maneira de sustentar a nova ordem de nosso tempo, que impõe o isolamento saneador em relação aos diferentes, e essa espécie de otimismo de superfície, que satisfaz os pobres de espírito com uma sabedoria descartável. A experiência cotidiana se contorce sobre si mesma numa concorrência desenfreada, que oferece mais abundância e estimula mais ganância. É nesse ambiente de esgotamento que o otimismo pueril viceja: em um mundo que instiga o desejo de se tornar um winner, sua é a luta para não ser um loser.
01 novembro 2008
Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre, 1905-1980 |
“A fenomenologia veio ensinar-nos que os estados são objetos, que um sentimento enquanto tal é um objeto transcendente e não pode contrair-se na interioridade de uma consciência”.
J.P.Sartre
Para falar de Jean-Paul Sartre e da relevância de sua filosofia existencial
ainda em nossos dias, não necessito abandonar este Café em que me encontro,
repleto de pessoas que conversam, comem e aguardam o próximo momento. Diante de
mim, uma jovem acaba de receber sua taça de café; despeja duas porções de
açúcar e com a colherinha, dissolve-as suavemente no café, sem pressa. Sobre o
muxoxo das vozes abafadas, sobressai a música, um saxofone que me envolve,
cujas intervenções alternam longos solos com breves e cortantes fraseados que,
longe de se portar como um simples musak, aprofunda o sentimento de prazer em
minha relação com o lugar.
Não há nenhum inconveniente na demora da atendente, ao contrário, isso me
permite acompanhar o movimento, desvelando-o a partir de minhas mediações
subjetivas. Posso me ater ao esforço angustiante da atendente em servir as
pessoas, ou aos ocupantes desta ou daquela mesa, uns animados com a conversa,
outros concentrados bebericando ou comendo e uns poucos solitários envolvidos
com a leitura de seus jornais. A jovem a minha frente se prende a uma tarefa,
mexer o açúcar de seu café, pensativa em duas ou três coisas relevantes em sua
vida. No grande cenário em movimento a minha volta, o spectrum barthiano,
atenho-me a este ponto incisivo, o fulcro da animação total, o punctum que
me atrai e me mobiliza. Desde o momento em que a envolvo em minha apreciação,
ela desperta em mim novas questões: qual sua idade?, o que pensa enquanto mexe
o café da xícara?, o que vai fazer em seguida?
A jovem não se abala, cessa o movimento com a colherinha, abandona-a sobre o
pires e leva a xícara à boca, para o primeiro gole de café. Observo essa
sucessão de gestos não como uma seqüência de sensações, mas como qualidades
sensíveis que emanam da jovem e são captadas pela minha intenção, pelo meu
desejo em acompanhar seus gestos contínuos e singelos. É pela minha consciência
intencional que a percebo como um todo, diante de mim. Eis a consciência
formulada por Sartre, uma consciência que se projeta para o mundo, não havendo
nada nela a não ser a intenção.
E uma vez sintonizado com a presença da jovem, passo a refletir sobre suas
atitudes, sobre sua beleza, sobre seu possível jeito de ser... Ela se torna
para mim um objeto, que avalio por suas expressões visíveis, e até onde puder
manter essa relação silenciosa e distante, a preservarei como
um objeto. Se ela se levantar e partir, perderei o contato presencial, mas me
restarão as evidências de sua presença e os traços de nossa relação,
daí porque não guardarei uma imagem da jovem – a consciência não é um
receptáculo onde se guardam coisas – mas retomarei uma consciência imaginante
da jovem.
Para Sartre, a consciência é intencional, suas experiências visam um sentido,
um significado. E este significado se coloca para além do momento. Assim, minha
vivência no Café me remete inevitavelmente a uma ação que se desdobrará rumo ao
futuro. Opto por uma escolha e me comprometo com ela: posso me aproximar da
jovem para uma conversa, como também posso levantar-me e ir ao cinema, ou posso
continuar à espera da atendente, observando a agitação no Café. Tenho a
liberdade de optar pelo projeto mais conveniente e assumi-lo, realizando-o. De
qualquer forma, estarei me engajando em uma situação, estabelecendo uma relação
com o mundo em que vivo.
Haverá sempre um recomeço: ao desprender-me de meu lugar no Café, estarei pronto para prosseguir minha relação com o outro, com o mundo em que vivo. Ao abandonar minhas elucubrações subjetivas, a jovem diante de mim deixa de fazer parte de meu projeto, para tornar-se uma referência em meu passado. Como ser contingente, lançado no mundo, vivencio o presente voltando-me para a próxima ação no futuro. O mal-estar que sufoca Roquentin em A Náusea é a angústia da existência, e contra ela não há subterfúgios, sob o risco de se agir de má-fé. A angústia da existência me evidencia que estou sozinho e livre, me definindo livremente a partir de meus atos e de minhas escolhas.
As experiências ordinárias vivenciadas nos Cafés e nos lugares públicos
forneceram a Sartre muitos dos ingredientes para a construção de sua obra. Ao
situar minha breve abordagem da fenomenologia sartriana em um Café, nada mais
desejei do que reverenciar a memória deste importante filósofo e escritor de
nosso tempo.