Os espectros rondam as ruas e as mentes |
Desde o domingo os acontecimentos políticos ainda mobilizam grande parte da sociedade brasileira, sejam nas pequenas conversas de rua, nos encontros familiares, nos locais de trabalho. Isso não significa dizer que as discussões sejam amistosas, serenas, construtivas. Muitas se dão no calor do que já se consagrou denominar de "polarizações", e nesse sentido, carregadas de força desmedida, beirando rupturas. De minha parte, entendo que este país sempre viveu, em tempos eleitorais, disputas "polarizadas": assim foi entre Erundina e Maluf em 1988 (gosto de recordar essa disputa em especial, por conta da torrencial migração de votos, no derradeiro momento, de Serra para a candidata do PT); entre Lula e Collor em 1989; entre FHC e Lula por duas vezes, em 1994 e 1998; entre Lula e os candidatos do PSDB por duas vezes, em 2002 (Serra) e 2006 (Alckmin) e depois, entre Dilma e novamente os candidatos do PSDB, Serra em 2010 e Aécio em 2014. Em 2018, os fatos excepcionais eliminaram Lula da disputa e robusteceram a candidatura, de início esquálida, de um certo ex-capitão.
Aí se produziu o ovo da serpente que hoje, quatro anos mais tarde, se reproduz e espalha o horror pelo país. O drama, ainda que não mais sob a animação decidida da mídia corporativa e do grande empresariado, prossegue em seus capítulos assustadores, comandado pela serpente e seus filhotes, ao inocular seu veneno em quase metade da população brasileira, majoritariamente localizada no centro-sul do país. No momento, se processa uma luta titânica entre uma crescente frente ampla democrática contra o terror monstruoso, que se ampara em lideranças farisaicas, em uma suposta liberdade individual e na truculência argumentativa, para que, ao fim e ao cabo, consigamos recuperar o sentido do debate político. Sem dúvida será a nossa Estalingrado, na intensidade da luta e no significado que a vitória poderá proporcionar, ao demolir paulatinamente com o mito (aqui no seu duplo sentido, figurado e literal) da superioridade de uma ordem protofascista.
Lula terminou o primeiro turno com 48,4% dos votos válidos, o ex-capitão, com 43,2%, diferença de mais de seis milhões de votos. Em uma análise rápida, mesmo sendo uma diferença menor que a esperada - os institutos de pesquisa apontavam uma diferença em torno de 10%), não é simples de ser suprimida. Na primeira pesquisa do segundo turno, que saiu hoje (IPEC), Lula abre uma diferença de 10 pontos (55% a 45%). O ex-capitão, que alimentou de modo irresponsável em suas hostes o prazer pela intolerância racial e de gênero, não tem como conquistar mais votos no Nordeste e entre as mulheres. Seu índice de rejeição supera os 50% e não há campo fértil para realizar uma colheita que lhe ofereça o que precisa. Restam 25 dias para o domingo de segundo turno e aos poucos, bem aos poucos, desponta no horizonte um brilho potente, um novo sol a nos iluminar com todas as cores vibrantes da democracia.
Hoje, 14 anos deste blog Chá nas Montanhas. Foram mais de 81.600 visualizações e quase 750 postagens ininterruptas (faltam 4) sobre política, cultura e cotidiano. Muita satisfação e orgulho por este trabalho que me entusiasma a cada texto publicado, sempre desejoso por instar o espírito crítico nestas trocas com o leitor. Que possamos comemorar muitos outros aniversários de construtivas análises.
Nenhum comentário:
Postar um comentário