Gonzalo
Millán (1947-2006) |
Poema 48
O rio inverte o curso de sua corrente
A água das cascatas sobre
As pessoas começam a caminhar
retrocedendo
Os cavalos caminham para trás
Os militares desfazem o desfilado
As balas saem das carnes
As balas entram nos canhões
Os oficiais guardam suas pistolas
A corrente penetra pelas tomadas
Os torturados deixam de agitar-se
Os torturados fecham suas bocas
Os campos de concentração se esvaziam
Aparecem os desaparecidos
Os mortos saem de suas tumbas
Os aviões voam para trás
Os rockets sobem até
os aviões
Allende dispara
As chamas se apagam
Tira-se o capacete
La Moneda se reconstitui íntegra
Seu crâneo se recompõe
Sai a um balcão
Allende retrocede até Tomás Moro
Os detidos saem de costas dos
estádios
11 de Setembro
Regressam aviões com refugiados
Chile é um país democrático
As forças Armadas respeitam a
constituição
Os militares regressam a seus
quartéis
Renasce Neruda
Retorna em uma ambulância à Isla
Negra
Dói sua próstata. Escreve.
Victor Jara toca o violão
Canta
Os discursos entram nas bocas
O tirano abraça a Prats
Desaparece
Prats revive
Os desempregados são recontratados
Os operários desfilam cantando
Venceremos!
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