10 maio 2021

Terruquear

 

Pedro Castillo

Em um artigo publicado há mais de três anos na revista da Universidade de Piura, Peru, a docente Nelly Trelles Castro analisou o neologismo que ganhava as manchetes midiáticas e dessa maneira nomeou seu texto, Terruquear, terruqueo, terruqueadores. Em longa análise, trouxe as referências onde o termo aparecia e as analisou detidamente. Teria sido Gabriela Wiener, colunista do diário La República, quem o utilizava pela primeira vez para denunciar o terrorismo praticado por atos e palavras de censura do governo, El terruquear viene fuerte desde este gobierno, que es igual de trucho que sus métodos (...). 

O neologismo verbal logo ganhou seus derivativos substantivos, terruqueo, terruqueadores, sendo assimilada rapidamente nos comentários políticos, denotando um sentido de prática terrorista. Segundo Nelly, no contexto sociopolítico peruano, terruquear (...) resulta el más adecuado para referirse a políticos, periodistas e ignorantes del arte, que consideran terroristas a personas, acciones, etc, que no son.

O termo, por sua vez, parece decorrer de uma palavra de uso coloquial no Peru, terruco. Ainda conforme o artigo de Castro, no dicionário de peruanismos DiPerú, de 2015, terruco significa persona que pertenece a un movimiento terrorista o practica actos de terrorismo, e sabemos que a experiência do Sendero Luminoso nos anos 1980 foi suficientemente poderosa para permanecer nas mentes e no léxico peruano uma compreensão indelével e muitas vezes distorcida sobre quem é, de fato, o agente do terrorismo.

Tudo isso para falar sobre a campanha eleitoral para a presidência no Peru, a trinta dias do segundo turno, que entra em sua reta final. Os embates são cada vez mais açodados, transformando-se em uma luta feroz - e muitas vezes sob argumentos falaciosos - pelo poder. De um lado o poder corporativo se une em torno do autoritarismo conservador de Keiko Fujimori como sendo a última barricada em defesa da democracia, e de outro, o forte movimento esquerdista de Pedro Castillo, que aglutina as massas populares, principalmente fora de Lima. 

A primeira aprofundará as reformas neoliberais no país, sob as bênçãos do capital financeiro, acentuando um autoritarismo de direita, a exemplo do que foi o governo de seu pai, Alberto Fujimori. Talvez, por trás de sua carinha quase angelical, seu governo tenha capacidade de ser muito mais cruel que o do pai, muito mais trágico e sem o desfecho policial, pois é notória a penetração da prática do lawfare nas instituições jurídicas de nossa Latinoamerica nos últimos sete ou oito anos. Cada vez mais as governanças conservadoras são atiçadas a mostrar uma cara mais brutal par agir contra os direitos constitucionais e trabalhistas da população.

De outro lado, uma proposta que promete - mas no Peru essa promessa vem de longe, e logo se dilui como água na água - transformações radicais à esquerda, com a proeminência do Estado e com a recuperação dos direitos trabalhistas. Sua base de apoio é poderosa, vem das comunidades tradicionais e populares do interior do país, do altiplano, organizadas politicamente em defesa da Pachamama. Uma candidatura com raiz, com expressividade, mas fragilmente exposta, se considerarmos as armas políticas que têm jogado (sujo) nos últimos anos. 

A mentira e a ameaça dos grupos de direita se estruturam sob forte apoio financeiro, cooptando corações e mentes pelo medo, fundadas sob alegações muitas vezes caluniosas, impondo o terrorismo aberto contra o perigo comunista, e para isso agem sem qualquer sanção jurídica, criando uma nebulosa "terra de ninguém", onde todos são potencialmente ameaçados.

Então fica claro compreender a profundidade e a extensão do neologismo peruano terruquear



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