17 maio 2021

Sobre um outro mundo possível

O aprendizado em algum recanto dos Andes

Só existe uma forma deste pérfido sistema distorcido da moral oportunista prevalecer sobre a vontade da população: pela deliberada e concatenada difusão da mentira, aliado ao imenso poder do capital financeiro. De outra maneira, como é possível conceber o aumento exponencial da miséria geral em favor da multiplicação da fortuna de uns tantos bilionários? Como é possível tolerar semelhante aprofundamento das desigualdades sem o concurso da violência dos órgãos de segurança? Como é possível suportar a disseminação da mentira pelo conjunto da mídia corporativa, agora respaldada pela mediosfera de grupos radicais de direita? São evidentes os sinais do descaso de governos peleles, capitães do mato impostos por um regime supranacional não democrático, que administram como feitores a exploração neocolonial do orçamento público.
  
Simultaneamente o homem comum se distancia da democracia, do Estado de direito, à medida que essa miséria institucionalizada avança. Daí a proliferação dos canalhas morais, os acima denominados capitães do mato. São os aditivos do sistema exploratório. Sem eles, os senhores do capital não teriam os tentáculos que penetram e esgarçam o bem-estar social. Falo desses pequenos governantes que espocam aqui, ali, em nossa Latinoamerica, Macri, Lênin Moreno, Jeanine Áñez, Bolsonaro, aprendizes subservientes sob o comando de corporações e poderes supranacionais. De um ponto de vista mais abrangente, como nos diz Wolfgang Streek em seu denso ensaio econômico Tempo Comprado - a crise adiada do capitalismo democrático: A utopia da gestão atual da crise também consiste na conclusão - por meios políticos - da já muito avançada despolitização da economia política, cimentada em Estados nacionais reorganizados sob o controle de uma diplomacia governamental e financeira internacional isolada da participação democrática (...).

Simplificando, a presença dos tentáculos do capital financeiro em todos os domínios da vida cotidiana nos alijou do poder de decisão, e nossa capacidade de sobrevivência - falo do ponto de vista da população como um todo - passa pelos desígnios de uma burocracia de intermediários. A face visível desse autoritarismo do capital, comandada pelos estafetas de sua confiança, atua na cooptação de corações e mentes do homem comum. Nesse processo, estão amparados pelo controle da informação. E a produção da mentira surge como elemento mediador de um mundo paralelo, criado para extirpar o conhecimento científico. Trata-se de sepultar a serenidade, ou o desejo sincero de uma realidade justa e democrática.

O mundo torna-se a passos largos em um grande mercado de oportunidades exploradas a ferro e fogo, onde competir, subornar, especular, eliminar, são expressões corriqueiras, utilizadas em gradações específicas e definidas pelos agentes que controlam o campo econômico, algo absolutamente compatível com a moral desejada em um capitalismo sem regulação. Ainda nas palavras de Streek, a solução consiste em integrar (a democracia dos Estados nacionais) num regime supranacional não democrático - uma espécie de super-Estado internacional sem democracia, (...) (eliminando-se) a soberania nacional enquanto um dos últimos bastiões da aleatoriedade política numa sociedade de mercado integrada internacionalmente.

(Por outro lado, atente para a áspera beleza da imagem acima. Seu significado nos diz muito de nossos verdadeiros sentimentos, onde se situam a crença infatigável de que um outro mundo é possível).

(atualizado em 17.05.2021).



Nenhum comentário: