Mulheres se mobilizam com a Revolução russa.
As entrevistas em canal aberto de televisão mostram, nestas
eleições, o quanto ficaram ultrapassadas não só por seu formato de perguntas e
respostas, como pela amplitude limitada de temas debatidos e, o que é pior,
pela isenção questionável dos jornalistas. Tem sido essa a impressão firmada
nas entrevistas do Jornal Nacional da TV Globo, onde a bancada assume uma
postura pouco íntegra, intervindo de maneira acintosa sobretudo quando o
candidato é do campo popular, como foi o caso de Ciro e mais recentemente, de
Haddad. Parece não existir uma norma que conduza com isonomia o conjunto de
entrevistas, aprofundando a impressão de que o jornalismo patronal nada mais é
do que um instituto publicitário a serviço dos candidatos que melhor respondem
suas expectativas.
Nesse sentido, resta saber quais serão os resultados das
campanhas digitais, se de fato exercerão um papel significativo, a ponto de
desbancar as campanhas por plataformas impressas (jornais e revistas) e
eletrônicas (TVs). As campanhas no espaço público, corpo a corpo, já tinham
sido as primeiras a sofrerem com o desenvolvimento das comunicações, com o
surgimento dos palanques eletrônicos de TV a partir dos anos 1970. Agora, as
redes digitais, com tudo o que possa representar de bom e ruim, parecem ganhar
terreno. Ainda considero, por todos os problemas já identificados de
robotização de informações ou ações de hackers, que há um considerável ganho de
informação, sendo o indivíduo o responsável por suas escolhas, crer ou não em bobagens supérfluas, crer ou não no processo histórico.
Recentemente acompanhamos uma avalancha de mulheres
organizadas pelas mídias digitais a rechaçar a candidatura de Bolsonaro. Tudo
ocorreu de maneira incrivelmente veloz, em menos de uma semana, dois milhões de
mulheres reagindo com logos emojis, figurinhas, GIFs, frases, símbolos em contraposição à ascensão do
candidato nas pesquisas, logo após o atentado que sofreu em Juiz de Fora, há dez
dias. Tudo muito rápido e recortado, significações fragmentárias a compor um feixe de sentidos. O certo é que não há
mais como se alegar neutralidade, ou pior, desconhecimento de causa. É o tempo do assédio fragmentário, e não resta dúvida que temos de fazer um esforço para compreender a realidade que nos cerca, para além das bolhas de relações que compartilhamos.
A má-fé ou a submissão ao conforto do
senso comum, que se satisfaz em reproduzir todo tipo de informação,
principalmente aquelas sem fundamento, é o ponto a ser observado e mensurado no processo comunicacional sob as tecnologias digitais. Lamentavelmente a formação escolar de nossa população, precarizada de seu sentido crítico desde o fim do governo João Goulart, faz com que largas parcelas sociais, envolvidas pelo discurso dominante do combate à corrupção como mote para o fim imediato das mazelas, se deixem levar pelo canto da sereia do senso comum disseminado e muitas vezes subvertido pela má-fé. Senti isso claramente nos derradeiros anos de minha docência, onde alunos com insuficiente formação de nossa sociedade se entusiasmavam com a poderosa descoberta de autores como Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, dentre outros.
O painel indica luta sem quartel nestes próximos vinte dias, suficiente para a ascensão das candidaturas progressistas, como também para a consolidação da violência discursiva de linhagens fascistas. As redes digitais permitem, e é no que acredito desde suas origens, incorporar pessoas em coletivos e movimentos dispostos a participar com ideias construtivas, e com elas compreender e interagir na realidade da vida social de modo consistente. Sigo para a festa Lula Livre na Paulista!
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