No dia em que remanejamos o tempo, retornando em uma hora o relógio para
finalizar o horário de verão, notamos a diferença ao despertar, pela manhã. A
faina cotidiana e seus prazos ganharam o que parecia um novo fôlego,
permitindo-nos o deleite mais gracioso dos momentos ordinários.
Ao longo
da semana, a expansão da disponibilidade parecia se haver alargado de tal modo,
que tomávamos o chá das tardes observando longamente o horizonte alaranjado,
decorado por suaves granulações de cirrus, enquanto uma infinidade de
pensamentos vinha e desaparecia, mansamente contemplados.
Mais um
mês e se diluiu por completo a urgência, como se a realidade incorporasse os
traços do esboço, o risco de um ensaio livre, sem os desígnios da pretensão. Ao
sobrevir a fadiga, bastava recostarmos nossas cabeças, para que os sonhos
brincassem com suas formas e conteúdos, recompondo um imaginário de ternas
apreensões, um mundo demarcado pela placidez extemporânea.
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