27 janeiro 2009

O senhor Reuben



Já não podia repassar as fotos, de modo que relembrava pela memória. E demorava-se nas reminiscências, nas mulheres que não soube amar, nos amores que não soube sustentar. Imagens deformadas que iam e vinham, ao sabor das noites mal dormidas, sonolentos acordes que se estendiam até perderem-se desgarrados em pesadelos sem fim.

Só havia refresco com o alvorecer. A difusa luz matinal o acalentava, dispersando as vozes rudes e aliciando novos sons, que concorriam para acudir o imaginário. Conseguia uma pausa diversionária, os carros na avenida, o rádio do vizinho, o assoalho de madeira do quarto, rangendo a cada passo titubeante em busca do banheiro. O bulício do cotidiano o enlaçava em uma dança morna, às cegas, que dadas suas condições de algum modo o distraía...

A sopa do almoço, o café da tarde, os gestos perdidos, as horas que pingavam morosas segundo após segundo, nada contava de fato até que o crepúsculo em suas ondulações esmaecidas retomasse o estupor de todas as noites, preparando o senhor Reuben para suas entorpecidas lamúrias, para as reminiscências perdidas, para as mulheres que não soube amar e os amores que não soube sustentar...


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