Berlim Potsdamerplatz, 1991 |
"Há
anos já tinha experimentado esse exercício de nomear um conto e desenvolvê-lo
de acordo com as suítes/faixas de um LP. Foi com o H to He, ou, do Hidrogênio ao Hélio, de Van der Graaf Generator.
Embora não apoiado nas letras, entendi que o texto deveria ser uma ficção
científica, envolvendo-me pela instigante melodia, pelos movimentos suaves das
composições. Parece que a experiência funcionou satisfatoriamente, pois quando
enviei o conto ao tradutor português de uma biografia de Peter Hammil, o líder
da banda, ele me respondeu que gostou, e que podia perceber um pouco da cidade
de São Paulo. De fato, o personagem principal derivava de modo errático pela
cidade, por um mal-estar gerado pela droga que lhe administraram. Foi esse um
breve momento de minha vida em que acompanhei com interesse o grupo e seu
líder, um cara com ideias interessantes a respeito do mundo. Sobre o texto, que
infelizmente acabei destruindo, tratava-se de um personagem que chegava de uma
longa viagem de ônibus e, por alguma razão que não me recordo, era
vigiado/observado por um cientista, para seus experimentos sociais. Havia um
grupo que monitorava o sujeito, a serviço do cientista e, ao final, quando um
desses assistentes se decide rebelar com a experiência, ele acaba tornando-se a
cobaia. Havia dois aspectos narrativos interessantes: (1) seu desenvolvimento
se deixava modular pelo ritmo das músicas e, (2) o personagem principal
desaparecia antes do final, com o foco narrativo mudando completamente. Era um
texto longo, umas boas quinze laudas, foi escrito ainda nos anos 1980 e destruído nos anos 1990, quando em um acesso de purificação do estilo, lancei
ao lixo vários textos “alternativos” ou experimentais. Uma tremenda bobagem,
bem noto hoje".
(de Diários de Viagem, 2009-2010)
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