Bruges, 2010 |
Confirmação da importância dos pequenos detalhes
Por um
acidente mínimo estivemos esta manhã a ponto de perder uma batalha diplomática
na UNESCO. Mínimo, porém, ao mesmo tempo grotesco, sádico, como de maneira
frequente sou vítima. Uma vintena de oradores toma a palavra para atacar, em
sua grande maioria, nossa tese e torná-la papa com argumentos jurídicos,
práticos, éticos, etc. Uma verdadeira avalancha. Quando terminam peço a palavra
para tratar de rebater o irrebatível, apelando com todos meus recursos
dialéticos, e nem bem comecei com grande energia minha peroração, um dente postiço
se desprende... Não posso interromper para tirá-lo da boca, pois era o centro das
atenções e seria notado, tendo de arcar com as consequências. De modo que não
restou outro recurso senão prosseguir em meu discurso, com um dente que dava
voltas pelas bochechas, pela língua, pelo palato, com o risco de que saísse
expelido sobre a mesa, ou pior ainda, que o tragasse garganta abaixo... A parte
de falar com um objeto na boca dificulta nossa locução e reduz nossas
possibilidades oratórias. Os esforços que tive de fazer para controlar os
movimentos do dente, seguir a linha de minha argumentação e poder expressar-me
de forma inteligível! A verdade é que a situação se tornou para mim intolerável
e tive que abreviar minha intervenção, deixando sem desenvolver muitos
argumentos de peso. De todo modo, o pouco que pude expressar foi suficiente para
evitar o naufrágio. O comitê terminou por aceitar que nossa tese figure no
informe final, o que em realidade é um triunfo, pois seus adversários queriam a
todo custo liquidá-la e não ouvir falar mais dela.
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