Anhalter, 1991 |
Caminhei desde a Kudamm, via
Lützowstrasse, passei pela Potsdamerplatz e agora me encontro no museu da
Comunicação, em seu simpático café. Sigo em minutos para o
objetivo do dia, a estação Anhalter, uns 200 metros daqui, tentando aproveitar
o restinho de luz do dia. O café está quente e acolhedor, um ambiente
espaçoso, mesas despojadas, a iluminação que brota delicada dos lustres e das arandelas
nas paredes, uma tonalidade grená que combina com o chão de madeira crua. O
lugar parece renovado, com um desenho moderno, confortável para bebericar um
café. Ao fundo, do lado do balcão, um pequeno hall, a antessala que se confunde
com uma coxia de teatro, a cortina ocultando parte da saída, cabides à
disposição dos clientes. Uma porta livre tem uma placa com os dizeres “das Kaffeehaus”. À minha esquerda, três
imensas janelas oferecem a visão possível de um terraço, cuja mureta acha-se
coberta com uma grossa camada de neve. Aos poucos chegam mais pessoas, que
agitam o ritmo de trabalho da única atendente. Nenhuma novidade a esse
respeito, em diversas cafeterias alemãs que frequentei até aqui, é comum uma
valente mulher encarar sozinha os pedidos. Em meu inglês desajeitado, pedi uma
grande taça de café e um pedaço de bolo, e logo eles não demoraram a chegar, uma deliciosa imagem. Logo
vou atravessar o salão e dirigir-me pela última vez a ela, para pagar a conta.
A jovem e dedicada atendente, que vejo por um breve instante. Com o meu adeus,
se tornará matéria da memória. Toda essa elegante presença a um passo de se transformar em recordação.
Recordo-me de dois personagens conversando em Cidadão
Kane, e um deles comenta ao outro sobre a efemeridade de um longínquo
encontro, descreve o olhar de uma mulher no tombadilho de um navio que zarpava
para o mar, e que por um instante cruzou com o seu, no cais, Sabia que nunca mais a veria novamente, ou algo assim. O vazio que causa esse sentimento de nunca mais é a consciência evanescente do momento presente. Essa, a
constatação que surge a todo momento ao longo de nossas existências.
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