18 março 2022

Guerra e paz

 

Isso nada tem a ver com Tolstói

A guerra entre Rússia e Ucrânia nasce da ambiguidade de ser arcaica em seus propósitos e moderna em sua consecução, aqui considerando o móvel da estratégia russa. Nada mais tolo do que se resolver um problema diplomático pela guerra. Putin encontrou esse caminho para, segundo ele, eliminar os focos nazifascistas e defender as regiões autônomas de Luhansk e Donetsk. As sanções de todo tipo, que se multiplicam contra a Rússia, tenderão a isolá-la econômica, política e culturalmente, acelerando suas ligações com a China. Os Estados Unidos e sua OTAN agem como um império ferido, levando a União Europeia no roldão das decisões atabalhoadas. Uma sucessão de empresas ocidentais abandona ou declara boicote à Rússia, o sistema financeiro Swift bane os bancos russos, restaurantes pelo mundo afora retiram do cardápio pratos russos como o estrogonofe ou a salada russa, as equipes esportivas são excluídas dos torneios mundiais, as mostras de filmes ou os cursos de literatura russos são cancelados, e a loucura toda não tem limites. Mais insano tem sido os bons olhos à convocatória generalizada de voluntários (entenda-se mercenários) para a luta ao lado dos ucranianos, ou o que sobrou de seu exército. 

O ponto de vista, nas análises, assume de maneira arrogante o lado ucraniano, sem se considerar o processo histórico que conduziu a escalada dos fatos. Tem sido comum aos comentaristas da mídia corporativa avaliar os acontecimentos à luz das circunstâncias presentes, e dessa maneira, levar o público a entender que uma potência militar esmaga impiedosamente um pequeno país indefeso. As meias-verdades são apresentadas ao sabor dos caprichos de analistas que, ao final das contas, descrevem um mesmo quadro, realçando os tons claro-escuros de acordo com as demandas. Se temos a descrição da brutalidade das forças russas em seu ataque, com as imagens referendando essa realidade, se a personalidade maligna de Putin é escarafunchada por 9 entre 10 “especialistas” de relações internacionais, por outro nada ficamos sabendo sobre o percurso político de Zelenski, nem tampouco sobre as formações e milícias armadas, que pululam na Ucrânia desde pelo menos 2014. Qual era o objetivo da OTAN no país, qual a extensão da rede de milícias fascistas, o que pretendiam, quais os motivos para tantos biolaboratórios financiados pelo Pentágono na Ucrânia? Quantos esclarecimentos indispensáveis seguem ocultos?

A ação bruta e violenta de Putin escancara apenas uma parte dos segredos desse conflito, que caminha para seu primeiro mês sem que se veja no horizonte das negociações um cessar-fogo definitivo.



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